quinta-feira, 22 de maio de 2014

Negação compulsiva da existência divina

Não há nada que nos faça existir excepto a nossa realidade corpórea e material que fisicamente ocupamos. Aquela energia - diferenças de potenciais em células do cérebro - a que chamamos pensamento, essa mesmo, nada mais é que organização grotesca e temporal de electrões que, para fortuna de uns e miséria de outros, não pode ser controlada. Apenas aparece vinda de causas genéticas, biológicas e naturais - quais combinações aleatórias. Todo esse esforço metafísico, estético e deontológico que causa movimento na nossa vida é em vão. Todos os trabalhos musculares e consequências de acções físicas serão um dia trabalhos musculares e suas causas. As partículas não têm um arranjo especial. Tudo vem das estrelas através de reacções nucleares. Antes disso a nossa compreensão cede.

Não há Deus nem Universo. Ninguém nos destina a nada e estamos todos destinados perante as condições iniciais que levaram a cabo a nossa vida. Nego portanto entidades divinas e todas as ideologias que existem no mundo. São todas morte e passatempos. O conforto da fé é uma ilusão temporária. A compreensão da ciência não leva a lado nenhum. A inovação tecnológica nunca inovará. A política é religião e sexo. A poesia não é arte e a arte é coisíssima nenhuma.

Van Gogh disse um dia que todas as pessoas do mundo são reduções de pinturas a que chamamos memórias. Mas Van Gogh nunca disse nada disso porque está morto e antes de morrer era maluco como todas as pessoas do mundo. Não existe História. Tudo o que se disser hoje será destruído amanhã e ontem ninguém cá estava para ver. Não há morte no mundo porque o mundo é morte perpétua. Se ninguém morresse ninguém vivia. Se aquele indiferente sofredor na esquina vasculhando o nauseante caixote do lixo não fosse aquele indiferente sofredor naquele momento, todas as pessoas do mundo seriam tão felizes quanto ele.

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