quinta-feira, 24 de março de 2016

Contrastes do amor

O amor é ter cócegas na barriga -
O amor é ter uma robustez anormal.
O amor é obsessão e intriga -
O amor é respeito e não querer mal.
O amor é uma doença peganhosa -
O amor é uma saúde infinita.
O amor é uma lágrima saudosa -
O amor é largar a paixão bendita
O amor é agarrar firmemente -
O amor é deixar ir finalmente.

E enquanto não se estudar o amor
Ele existirá no mundo ao natural.
Será por ilustres pensadores abrandado;
Pobres camponeses, esses, catalisadores.
Quem quer saber mais do que sente
Nunca sentirá senão o que finge saber.

quarta-feira, 9 de março de 2016

O amor é o que o amor não é

Ela estava agachada em si própria na sua cama de veludo sóbrio, abafando com o pobre travesseiro o seu choro desesperado, este causado pela difícil separação que sofrera no dia anterior. As relações juvenis têm sempre uma intensidade forte para quem as vê de dentro e uma espécie de exagero emotivo - afectos desnecessários e acções demasiado chamativas - para quem as vê de fora. Talvez por isso chorasse tanto - pela absurdez da causa e pela incompreensão introspectiva dos seus próprios sentimentos. Que animal tão fraco é o Ser Humano para deixar as emoções e as fracas e fixas ideologias tomarem conta da razão racional que pôs o Homem na Terra. Afinal, foi com a racionalidade, o pensamento científico, humanístico e técnico, que o Homem atravessou Oceanos: foi com essas capacidades que se viu o que esconde o Universo Infinito, aquilo para onde olhamos mas que não se vê a olho nu.

Afinal, o amor cria dependência como outra droga qualquer. E ela sentia-o - ela não parava era de chorar! Afinal, chorar limpa o coração - mas o coração é um órgão e ela tinha sangue e oxigénio suficiente para o fazer continuar na sua função vital.

Ah! Talvez os sentimentos sejam necessários. Algumas revoluções foram encomendadas pelos sentimentos dos mais carenciados e marginalizados. Os negros norte-americanos na longa batalha pela igualdade de direitos; as mulheres pela liberdade de voto, quais séculos não abafaram sentimentos fervorosos! Dois exemplos de bons produtos finais de uma análise mais sentimental do mundo. Dois exemplos que à primeira vista não têm nada a ver com o amor mas que, enfim, apenas foram concretizados devido ao mais abrangente sentimento que a razão humana excretou - ou poliu - o amor. O amor que faz chorar é o mesmo amor que faz lutar. Não por uma pessoa, não por uma ideologia ou melhores condições de vida e de direitos. O amor ele-próprio tem todas as causas do mundo e apenas um fim - apaziguar e acalmar a maquinal e infernal mente humana.
Ela chorou e reflectiu - e o amor consumou-se.