sábado, 23 de abril de 2016

Luísa

A Luísa é difícil de explicar...
Um tanto doce, suavemente vive.
Tem imenso para ao mundo dar
Ao saber as angústias que tive.

Luísa de porcelana frágil:
O teu físico quebradiço é magistral,
Embora tua mente rápida e ágil.
Luísa: no teu coração não encontro mal.

Mas ao ver-te dar corda ao relógio,
Aquele que na vida só pára duas vezes,
Talvez me caia uma lágrima breve -

Não de tristeza mas de esperança -
Porque tens em perfeita balança
A vida e a necessidade de viver.

domingo, 17 de abril de 2016

Estas manhãs de domingo de quando eu era pequenino

É um domingo de manhã.
Eu, menino, levanto-me para ir à missa.
O sol radia pelo quarto,
Tudo está claro no espaço luminoso.

Do quarto à cozinha distam dois corredores,
Quais atribuo a designação por os completar a correr.
Na cozinha já está o guisado ao lume,
Por ser domingo e pelo dia ser característico
Do almoço especial - comida mais saborosa para
O doce paladar de uma criança.

Este é o cheiro característico deste dia.
Este sol pertence aos domingos - aos meus domingos.
Esta pressa que a mãe me incute porque já está
Quase na hora da missa é coisa típica de domingo.

Estas manhãs de domingo de quando eu era pequenino.

Embarcávamos no carro e seguíamos para a missa.
A família no carro - o carro com intenções divinas.

Na capela ouvia o padre, as velhas nas leituras,
As outras pessoas a ouvirem o padre.
Observava o ambiente, buscava os meus amigos.
Deus estava lá - Deus era eu a fazer isto tudo.
Deus não era a palavra do padre, não eram as leituras.
Deus era uma criança a ir à missa, porque ia à missa a brincar.
Deus não era coisa de adultos sérios ou padres jovens intelectuais.
Era eu estar lá a pensar em ir brincar com os amigos à porta da capela, no fim da missa.

Findada a missa e a brincadeira, Deus ficava lá quietinho
E até para a semana, se Deus quiser.

Era altura de ir ao café.
Para o pai, café forte;
(Não necessariamente forte o conteúdo da chávena,
Mas aos meus olhos era o necessário)
Para a mãe, café cheio;
Para mim, o que calhasse - mas tinha que ser doce.
E a minha mente olhava para o doce e nada mais.

Em casa, o guisado devia de estar feito.
Cheirava bem, e era só.
A refeição acabava e a única grande preocupação
Era a escola que sucedia desse o ponteiro a volta ao relógio.
Era simples.

Como este poema.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Deus está morto?




Deus é uma teologia à parte.
Nietzsche é uma parte da teologia.

Em cinquenta anos nada se acrescentou
À pergunta inaugurada pelo filósofo alemão.
Em séculos passados - mais de vinte -
Ninguém perguntou a questão.
Quem perguntava era silenciado.
Portanto ninguém, em registo oficial, quis saber.

Excepto a humanidade inteira.
Excepto o Homem que vem antes de Deus.
Excepto os juízes da Inquisição que ardem no Inferno
E os Papas que para lá seguiram.

Enfim - a doutrina mudou.
(E os dogmas, como são esses?)
Os Papas sentam-se no trono e morrem.
Todos os filósofos são Deuses
E Deus é um mero filósofo.
Ou será que o Homem não escreveu sobre isso?

Sinceramente, todo este tema é aborrecido,
Só que há perguntas que têm de ser feitas.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Tiros de pólvora seca

A origem da desilusão humana reside num único culpado.
É o Homem.

Dizem que somos um ser social, que precisamos dos outros para viver.
Precisamos de uma família que nos acolhe na infância;
De professores para nos prepararem para a vida adulta.
De amigos para mantermos a calma e a sanidade
E de alguém especial para procriarmos e sentirmos "amor".

"Amor". Não - julgo que não necessitamos disso.
Necessitamos de saúde para nos mantermos vivos e confortáveis no mundo.
Precisamos de livros e Internet para sabermos mais coisas sobre o mundo.
Água, comida, estado social, políticos honestos...
Mas "Amor"? Essa coisa?
Não.

A origem da desilusão humana reside num único culpado.
É o "Amor".