quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Bíblia

Leu-se a bíblia e assim ficou.
Uma peça de literatura originou
Coisas demasiadas. Os homens
Perderam-se e consomem-se
Afirmando entenderem o ideal
Abstracto daquela obra radial.

Li Caim e o Evangelho de Saramago.
(Ou fingi que li - como se lê a Bíblia
De todos nós e de Deus de nós todos.)
As dúvidas que aqui embargo
São falsas como o Gesto Amargo
De Deus Todo-Poderoso-Assim-Assim.
Não é necessário medo ou instituição.
Recuso viver angustiado - assistindo
A textos escritos que nada são.

Ora as pessoas? Fazem-me sorrir
Porque não vejo nada nelas diferente.
Nada me faz Deus, ou outro, sentir.
Mas as pessoas fazem-me contente.
Sim - as pessoas de uma Religião.
Elas são todas iguais. Não são?

Creio nelas. Creio que se há Deus,
Nada em que eu acredite lhe importará.
Mas não há deus pela oposição
De ideias entre povos e comunidades.
Há deus naquelas coisas da bondade.
Há uma entidade divina em cada esquina:
Espreitei e vi-a, de relance, até me esconder.
Há gente cheia de fé - tanta que até chateia.
Mas há outras que - Deus me venha negar -
Pouco querem saber, de tanto adorar.

A Religião é tudo isto e nada mais.
A missão é saber o que comer agora;
Cuidar de quem precisa e jamais
Praticar o mal. Quem isto demora
A enxergar por estar cego com uma
Religião - meus irmãos - haja inferno
Para eles que não chegam ao Inverno.

Leu-se a Bíblia e ficou assim.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Como de costume, tenho dificuldade em rematar um título

Invente uma história.
Verá que o empurrão
Inicial será escória
Ao receber seu quinhão.

Por vezes tudo parece
Uma fantasia encadeada:
O recheio belo acontece
E ideias surgem do nada.

Dê luta ao pensamento.
Se agora, neste momento,
Não lhe vem o começo,
Escreva o fim como adereço.

Se calhar a metafísica
Supera a lógica final.
Alguma superlativa dica
Me retira a vida radical.

Leia mais que isso é bom
Para inverter a inspiração.
Algo simples - um som -
O fará escrever uma canção.

Cantar os feitos Lusos
E papagueá-lo mais tarde,
Num século consciente,
Serve só aos de boa mente.

Mas eu sonho e desbasto
Este futuro que nunca é.
O que será? - perdi-lhe o rasto.
Porra, que Futuro posto de ré.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Poema curto e simbólico

Pequenos actos de vileza
Indexados ao extremo,
E sempre cheios de certeza,
Dão sofrimento terreno.

Aos pais, e filhos de idade,
Dura é a ternura a receber.
Enlaçados, isentam quantidade.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Sozinho vou, meu amo

Sozinho vou, meu amo,
Para onde me levarem
As coisas que, quando
Não se vêem, se sentem.

Serviste-me em hora
Vaga e inexistente.
Tiveste tempo de sobra
E nem esse trouxe gente.

Sozinho nascer me viste.
Contigo de vigia fiquei.
Com a tua vida triste
Ainda não me deparei.

Ensina-me as canções
Da vida, e da morte:
Esta que nos Verões
Espera quem tem sorte.