quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Procuro-me

Parece absurdo, mas durante o período lectivo, o Daniel é muita coisa. É crítico, cínico, controlador... Exagerado e palerma. Durante as aulas, o Daniel é tudo, menos o Daniel. Se nas férias conseguia encontrar a essência da minha existência nela própria, já nas aulas acontece o oposto. Nas aulas não sei ler, não sei escrever, não sei contar nem como me movo no espaço. As aulas fazem-me burro e absurdo. Transformam-me numa aberração social, invertem-me as opiniões e as afeições. Não consigo encontrar uma constante lógica na qual apoie a minha realidade... Tudo o que faço ou digo é errado à primeira vista, tudo o que digo ou faço é fútil, redundante e ingénuo. Acabo a pensar por extensas horas, à procura das respostas ao trio de questões que a nossa realidade fatalista nos coloca. Penso que vim de não sei onde, vou para não sei onde e sou não sei o quê. Não se trata de não saber que os is têm pontos, trata-se de não saber como pôr os pontos nos is.

domingo, 16 de setembro de 2012

O perfeito é o mundo mudo

O mundo é lógico.
Não seria lógico se não fosse,
absurdo.
Ele não se ria do absurdo se não fosse,
lógico e absurdo.
Não seria lógico se ele se risse,
sendo mudo.
Seria perfeito se o mundo fosse lógico, sendo, então,
mudo.

O mundo somos nós;
o nós é lógico, mas absurdo.
Então o nós é o mundo
que se ri de nós, por sermos,
imundos, e não mudos.
Seria perfeito se o nós fosse lógico, sendo, então,
mudo.

Imundos seremos por sermos,
parte do mundo.
Por parte do mundo sermos,
somos nós: imundos.
Seria perfeito se mais mundos fossem lógicos, sendo o nós,
mudo.
Mas se mais mundos fossem lógicos, mudos não seriam.
Porque se mais mundos houvessem, lógicos não seriam.

:)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A insónia


Estava eu na cama posto
Pronto para meu descanso,
Quando à cabeça me vem teu rosto.

Na minha mente ávida
A tua bela imagem começa
Como uma flor que pouco gosto
Pisada pela travessa vida;
É quando à cabeça me vem teu rosto.

Depois de pisada a raiz sobeja
Pronta para germinar de novo
Aquela flor que odeio e pica,
Para que pelo pé pisada seja.
Então à cabeça me vem teu rosto

Assustado enfim adormeço
E é então que a sonhar começo.
Nele teu rosto escarlate aparece
Livre dos espinhos malvados.

Vi então que tinhas mudado.
E que flor desejada eras!
Porque na honestidade acreditar puderas,
Acordo por ti desafiado.
E é quando à cabeça me vem teu rosto.