domingo, 20 de novembro de 2016

Domingo entre um cobertor quentinho


Chove bem e o casaco ensope-se.
Devia ter trazido um impermeável,
Penso enquanto corro do Campo Pequeno
À Avenida de Berna.

Os carros passam e fazem barulhos de cidade.
Encharcado, oiço os meus passos nas barreiras.
As pessoas com pressa num rodopiar de umbrelas
Abrigam-se da vaga de vento que muda o declive da chuva.
E eu, infeliz desabrigado, dependo da minha rapidez para chegar a casa.

Chego à Avenida de Roma com efeitos natalícios.
É crepúsculo e a rua iluminada de festividade antecipada
Dá uma sensação de acolhimento próspero a sorrisos.
(As melhores coisas do mundo acontecem no lusco-fusco).
A claridade do sol está diminuta e a chuva a abrandar.
As nuvens dissipam-se - deixam passar a fraca luz do sol -
E as montras alegram quem passa por elas.
Fatos e vestidos lindos, brinquedos coloridos; tudo o que é bom.

Uns metros mais tarde encosto-me às paredes húmidas da minha casa:
Na rua molhada, com o casaco encharcado e a o cabelo a escorrer.
As árvores seminuas gritam o Outono em que estamos,
Apesar do ar fresco que me arrepia a cara.

Estão folhas castanhas caídas no chão;
Tal qual eu a entrar na alpendrada -
Despedindo-me da rua que me fez desconfortável ao frio
E assente numa ideia fixa de que o belo é não usar guarda-chuva.

Agasalho-me num cobertor quentinho enquanto a roupa está a secar.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Quando se deixa de lutar por uma relação

Dia 1:
Ao tomar esta decisão não pensei em mim - mas em nós.
(Mentira...)
Concluímos ambos que "era melhor assim": seguirmos sós.
(Unilateralmente - sem razões e com ira!)

Dia 2:
Já dormimos sobre isso e tudo está a ficar melhor.
(Conseguiste dormir?)
Não há traços a carvão na tela do destino por concluir.
(Somente quando o artista tem à arte pavor.)

Dia 5:
Olá de novo, como está tudo?
(Normal.)
A interação dos astros fizeram-me mudo.
(Tal e qual.)

Dia 25:
Era a distância, era a rotina - o que querias que acontecesse?
(Que lutasses como eu lutei.)
Meu Deus - onde foi que eu errei?
(Em te cansares - em deixares que morresse.)

Dia 50:
Vi-te ontem na biblioteca. Vi que seguiste sem rei nem lei.
(O que querias que acontecesse?)
Que lutasses como eu lutei.
(Mil companhias e nenhuma com quem merece)

Dia 125:
Tenho saudades tuas, vamos voltar ao que éramos.
(Esse passado está esquecido.)
A memória traz um sentimento adormecido...
(É por causa de ti que no presente não namoramos.)

Dia 1875 + π/2
Já és doutora, que orgulho tenho em ti.
(Os meus pais também.)
Um engenheiro e uma médica - pensa bem...
(Pareces aquele parvo dum livro que uma vez li.)