sábado, 30 de dezembro de 2017

Amontoado

Os acontecimentos sucedem-se
E eu continuo igual.
É uma vontade tal
De não fazer uma única coisa para a minha felicidade;
De não precaver o meu futuro:
De o ver desmoronar-se.

Para que assim, completamente parvo,
Possa jogar isto da vida
Em modo de dificuldade elevada.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Até quando for tarde demais

Na escuridão rompe o desejo
De te dar as mãos uma vez mais -
De saborear o doce do teu beijo -
De ver em nós duas almas iguais.

O tempo que passe e que acenda
O que de nós ontem era passado,
Que quando sentirmos de novo
Já não me vais querer acordado.

De mim resta o que já foi de ti,
Que não era a inocência nem
As brincadeiras amorosas.

Eram as palavras saudosas
Que não diziam nada.
Soubesse eu saber ler-te calada.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Vento

Que saudades eu tenho do vento a soprar.
Da brisa da serra que fazia bem.
Das tardes no campo a ver as casas.
E à noite, a tremelicar, do frio do mar.

Era uma juventude partilhada e diferente.
Não era de coisas vividas nem de vidas
À espera de se tornarem numa conclusão.
Era de jogos na estrada e fazer parar carros.

E agora? Nada é simples.
Todos se fartam do que têm.
Não existem recomeços.
O sol brilha e a lua completa ciclos.

Basta - recomecemos.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Condenação

Tudo parece excessivamente arbitrário.

Nasce-se, casa-se e morre-se.
No meio temos filhos e gostamos deles.
Tomamos vinho por vezes e quando
Nos sentimos tristes pensamos no significado disto tudo.

Nascemos e somos crianças até deixarmos de ser.
Vemos os bonecos na televisão;
Rimos de piadas simples e rimos com vontade.
Alguém nos alimenta e dá amor.
Vamos à missa nos domingos de manhã
E pensamos que isso de Deus é coisa simples.

Crescemos. A família anterior começa a morrer
E somos responsáveis por fazer uma nova.
Encontramos alguém e fazemos crianças
Para que essas também se possam rir
Com bonecos coloridos e ir à missa sem pensar.
A mente ocupa-se com uma ocupação diária
E sustentamos a família e a sociedade.

Já é fim do mês. Já não vamos à missa com vontade
E o padre pede que pensemos em fazer o bem.
Ser dependente de quem depende de nós
É um dever mais do que assumido.
Mas não pensamos nisso porque há vinho na mesa
E quando esse se acabar compramos mais.
Vendo o nosso reflexo no espelho
Surge-nos uma estranheza.
Onde está o cabelo?
A mulher ficou gorda.
Os filhos estão na universidade.
A vida foi, toda ela, uma mentira.
E que drama é uma vida onde não há drama.