segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Natureza

As folhas verdes agitam-se no jardim.
Toda a Natureza fria e desanimada
está em mim contida, difundida num
Ser que por sentir se aflige mediocremente.

No exterior do meu recolho permanece o ânimo
que perambula tão distante desta entidade escondida,
criada para empunhar o inútil e desagradável:
pretendo idealizar a árvore perfeita com fruto saboroso.

Pudesse eu perder a verdura fresca que me afeta.

Como te desejo, tarde serena. Em ti correr
alegre, despreocupado. Encher-me de sol e paixão,
procurar a rocha da ambição escondida no querer
adquirir a virtude interminável e encher-me de poder.

Interrogo-me como um filósofo, mas procuro a verdade
acima de todas as coisas inalcançáveis. Por perder
a Existência, derrubo-me interminavelmente.
Por pura coesão ideológica, quero investigar a Natureza.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Escrever

Escrever é sentir com os dedos. Observar o real e tornar a ficção em algo que paralelamente o complementa. É fazer sonhar o leitor, dar-lhe acesso a uma chave que abre todas as portas de um mundo gigantesco, maior que este onde vivemos e sentimos. É modificar uma dor sentida e poética noutra qualquer acessível a todos os interessados a viver para além das palavras. Uma dor suja que se torna num velho à chuva ou num céu azul feliz, servindo de recreio à imaginação de quem lê. É sofrer como quem quer sofrer, usar comparações inadequadas e um vocabulário rigorosamente elementar, com explicações sentidas e feridas no papel branco manchado de tinta preta. É contrastar o sangue ardente e flamejante que segue nas veias e, numa vontade incessante, querer que estas escorram tinta preta; sempre preta: o luto inerente à arte poética e à solidão magnífica. É falar mal e não saber o que se diz concretamente, responder a questões sem lógica, dúvidas que permanecem durante fracassos seguidos e permanentes até se amontoarem num acúmulo de desespero e indignação trazido pelo sucesso tardio.
Na verdade, quem escreve nega o seu bem mais precioso: sentir. Quem o julga poderá afirmar que tal não é verdade e que a escrita subjectiva o contradiz etimologicamente. Mas só ele o sabe, só ele sente o que não sente, apenas ele deve dar encanto aos cantos perpendiculares da sua folha com alegorias e figuras imaginativas e criativas. Não se limita a transgredir o real, nem a obstiná-lo, apenas o usa para contentamento geral, para hilaridade comum. Quando finita o seu Destino, acabam os sonhos ou tudo aquilo que até antes nunca tinha acabado. Nada continua excepto o seu nome, o seu nome requintado e utilizado para outro contentamento geral, gozando de um estatuto de mártir quando na verdade era apenas um doido desajustado a uma regra social desadequada, vivendo num hospício sem a ele pertencer.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Mensagem


Num sábado como qualquer outro, estava uma menina entretida com a troca repetida de mensagens de telemóvel que tanto a fascinava e fazia sonhar. Estava em repouso no seu sofá macio, com uma perna por debaixo da outra, descalça, vestia uns curtos calções de ganga com bainhas desfiadas com bolsos cor-de-rosa que se notavam por tão curtos serem os calções. Como era um sábado soalheiro das férias de Verão, tinha uma camisola cinzenta pertencente a seu pai vestida, que por lhe ser larga, tinha um nó junto à anca robusta, que a ajustava ao seu fino corpo, tornando-a mais curta e apertada, descobrindo a sua elegante barriga morena. Tinha longos cabelos louros e uns olhos azuis claros, como o fundo de um mar cristalino. A menina estava notavelmente agitada. Aguardava nervosa pela resposta do seu destinatário, aquele telemóvel, aliás: aquele rapaz, era o centro do seu mundo e da sua imaginação repleta de cenários apaixonados. Sonhava um dia estar protegida sobre os seus braços firmes e de ouvir a sua voz suave dizer-lhe "Está tudo bem... Não chores mais.". Não se sentia infeliz naquele momento, mas sonhava estar, de algum modo, triste para ser reconfortada pelo seu pseudo-namorado.. Ansiosa sim, mergulhada num oceano de incertezas porque a resposta tardava... "Mas o que será que ele ficou a pensar?" - questionava-se. Essa dúvida surge porque ela está à espera da resposta a isto:
Sabes como me sinto... Estranha. Não sei como te explicar em tão poucos caracteres, mas tu és especial, lindo... Fazes-me sentir desejada, estas a ganhar espaço no meu coração... Espero estar contigo para te dizer tudo isto, para poder ver os teus olhos, ver a tua sinceridade.. Sou tão burra, eu nunca devia ter dito isto desculpa.
Numa falta de sentido lógico, o que ela fez foi, tinha agora noção, uma enorme estupidez. Numa paranóia consequente, julgou que o rapaz jamais voltaria a falar com ela quer visualmente quer por uso das telecomunicações. Uma paixão idiota, concluiu. Provavelmente ela não gostava assim tanto dele e alem disso apenas tinha 15 anos. No entanto, quando se preparava para contar à amiga dita mais chegada, uma vibração preenche a sua mão direita que segurava o telemóvel. Era a resposta anteriormente aguardada do rapaz. Ao abrir, deparou-se com algo tão simples como "Lol, és fofinha :3". Por pouco não soltou um gritinho meio estérico meio de contentação. Levantou os braços e cantarolou feliz "Ele gosta de mim, ele gosta de mim...". Assim estava a menina de 15 anos atenta a responder de forma habitual, feliz e contente, afirmando que se tratava do melhor dia da sua vida. Portanto estava a menina entretida com a troca repetida de mensagens de telemóvel que tanto a fascinava e fazia sonhar...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Cliché

O Universo é tão vasto...
Tão preenchido com coisa nenhuma,
difundido nas orlas de um espaço gasto,
dilatando perpetuamente, em suma.

Há quem diga que não:
que chegará um dia em que tudo
regressa ao reduto anterior, em vão.
Mas, porquê? Porque não mudo?

Defino-me assim como uma parte
do universo em mudança e expansão
que apenas tenta entre a arte
e a ciência que a faz ver a relação.

Olho à noite aquilo que o dia
me impede de com os olhos ver:
o modo como Deus alfa sorria,
como ele poderia sequer ser.

E assim, com mais ou menos
matemática complexa e escrita,
com matéria e corpos serenos,
se descobre o que para lá medita.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Constante


Sinto-me estranho quando os meus olhos te caem em cima. Nada me parece totalmente normal, nada é como é, sinto-me outro: despreocupado, leve, tranquilo. Hesito em falar para ti, em transformar em palavras aquilo que sinto. Eu falo e digo-o de uma maneira que só tu entendes. Mas algo muito importante tem que ser dito e justificado: eu gosto de ti... Muito.
"Gostar" não significa ter uma afeição ou achar-te simplesmente atraente. Implica querer conhecer-te, querer passar momentos inesquecíveis, é pegar no dicionário de sinónimos e procurar palavras alternativas que te façam sorrir e sonhar. Quem me dera que "gostar" fosse só isso, fosse só dizê-lo e pronunciá-lo. Mas isso não faz sentido, isso não é romântico nem nos faz sentir como se todo o mundo tivesse a nosso favor! "Gostar" é como quem ama, mas para pessoas livres, para gente que não se farta de dar aquilo que tem de melhor e de receber exactamente o mesmo em troca, "gostar" é para os gestos verdadeiros e sinceros, é algo que não enjoa e que nos faz sentir extremamente bem... É a sinestesia do amor, um texto curto que diz e explica tudo o que existe no mundo, algo fantasioso e agradável.
Conhecer alguém é e continua a ser um desafio intenso e com emoção, por isso não se desiste de algo que faz parte das nossas convicções e objectivos: se acreditamos e não temos nada a perder, porquê desistir? O fracasso dita o sucesso iminente e quanto maior for o falhanço, mais saboroso e encantador será o êxito que acontecerá sem dúvida alguma. Basta sermos bonitos e adequados, porque estas duas qualidades todos nós temos dentro da aliança que lateja dentro do nosso peito! Acredita em ti, investe em ti e sonha, assim será fácil e quanto mais difícil for aquilo que pretendes, mais fácil será consegui-lo.
O objectivo de amar alguém deve ser como o "pi": uma constante presente no conjunto real da nossa vida que não se altera, irracional mas compreensível e alcançável através da experiência e persistência!