segunda-feira, 24 de abril de 2017

Ninguém durma

Ninguém durma! - ninguém durma!
Tu também, ó princesa - na tua fria alcova olhas as
Estrelas que tremulam de amor e de esperança!
Mas o meu mistério está fechado comigo;
O meu nome ninguém saberá!
Não, não - sobre a tua boca o direi
Quando a luz resplandecer!
E o meu beijo destruirá o silêncio que te faz minha!

O meu nome ninguém saberá ...
E nós deveremos, ai de nós, morrer!
Morrer!

Desvaneça, ó noite!
Desapareçam, estrelas!
Desapareçam, estrelas!
Pela manhã vencerei!
Vencerei! - vencerei!

Giácomo Puccini

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Quem és tu, que me conquistas desde o início dos tempos?

Quem conhecia os relógios antes de haver tempo
Que me diga o que tinham eles para dizer.
A que apontavam os ponteiros de cerâmica rica
Encontrados num eixo central equidistante às horas do sonho?

Que diziam as pontas baratas em numeração romana
Se nem era em círculo que o tempo que se consumava?
Ou o não-sei-quê que tinha um relógio de ouro
Que disse à não-sei-quem que o tinha de acertar?

O tempo... que tempo? Para onde vamos - essa coisa de amanhã?
Tudo se prepara para reaproveitar o que se passou ontem.
Para remoer no passado como trituradora industrial gigante
E remexer pensativamente com a colher de pau da análise consequente.

Deixem estar lá o que de lá não volta.
Qualquer dia estará hoje em causa o que faltou dizer
E o que não foi dito desta feita amanhã.
Que alegria vos traz isso; que conquista pensam recuperar?

A hora do sonho nunca vai chegar.
Partimos todos de um abismo com um metro de algura
No qual só cai quem não se consegue levantar.
E não conseguimos ver nada de onde não há nada.

Chegamos ao fim cansados e sem filhos.
Vivemos no tempo em que não havia tempo -
Não porque não o havia ou não tinha sido inventado.
Vivemos na recusa de deixar o tempo passar.

domingo, 9 de abril de 2017

Como esquecer alguém

Não está em minha mente, amor,
Meu amor que bem me mente -
Um cardápio de sentimentos suados
Com lentos e elegantes acabados.

Está em meu pensamento, meu bem,
Uma quadrilha de intentos enquistados;
Sofrem por não terem curto rumo
E se alongarem em pensamentos pesados.

Quais as conquistas do amor acabado
Quando à análise se deve a beleza do mundo?
Dizes que o amor é passado;

Dizes que o amor é sortudo; -
Mas quantas lógicas deixaram passar
Esses sonetos de quem recua a amar?