segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Máquina de sentir


Sou ruim. Sou bastante ruim.
Acabaram-se as balas antes do inimigo chegar;
E ele chegou destruindo tudo o que encontrava.
Mas sou ruim. Hei-de ser ruim como as espadas manchadas.

Aqui há uns tempos todos os meus sentimentos
Eram mediados para saírem cristais nas minhas ações.
E tive sucesso - sucesso imediato, digo eu.
Era tudo contínuo e linear. Até quando me convidavam
A puxar o gatilho da minha indignação, lá avagarava os coices
De maneira a não ferir suscetibilidades.
Curioso: era feliz por querer.

Tornei-me no senhor nosso deus todo poderoso.
Fui à boleia de quem era mais entendido do que eu
E nem uma saliência da veia do pescoço mostrava enquanto explicava.
Fiz-me ruim. Bastante ruim.

Os novos entendimentos dividiam-se e conquistavam os antigos.
Nenhuma ideologia era aberrante e ninguém,
Pela origem dos seus preceitos, era um escárnio.

Foi tudo para esconder o que lá habitava por detrás.
Lá na curva da esperança de revolucionar.
E nem uma realização houve. Nem uma.
Senão fosse ruim, nem isso seria.

Porquanto sinto uma revolta não me sinto nada envolto.
Sou o fim de uma ceia de jejum
E já há dentro de mim um falhanço incontornável.

Sou calmo; serei calmo.
Recomeçarei todos os recomeços falhados
Até nunca mais falhar ou pensar que assim é.