Entre fumos psicóticos e líquidos de evaporação rápida,
Ele senta-se para escrever qualquer coisa sob a ampla janela.
Desvia o olhar para cima durante dois segundos e contempla.
É a rua de sempre, preenchida pelas pessoas de sempre.
É sobre isso que vai escrever e o seu coração
Cruza-se como as linhas da calçada.
A mansarda está fechada; é domingo de manhã.
Se existisse naquele estúdio alguma vista para o céu,
Que mística universal poderia o poema conter?
Mas é a imaginação que reina e que faz os homens tremer.
As pessoas lá fora são previsíveis: ninguém se desamarra
Da rotineira pressa ou do inevitável consumo dos vícios
Urbanos que tão bem empregam o dono da Tabacaria habitual.
À porta, os clientes param dez ou vinte segundos para acender
O cigarro: o primeiro daquela nova viagem de pacote a estrear.
Uma ou duas tentavas de combustão de fósforo, uma degustação
Primária do fumo que não se inala e uma contemplação
Do cigarro com a ponta incandescente por inteiro.
Acena o poeta a este! Ora lá vai mais um de parecenças!
É a vida moderna - assente naqueles lugares que bem conhece.
Mas a vida movimentada e previsível só dá acaso à análise
Se esta última for percebida do lado de dentro,
Enquanto sentado à beira da janela e rabiscando algumas estrofes.
As imagens que escreve de acordo com as helénicas ou românicas
Divindades, ora nefastas porque lhe é quebrado o ritmo, ora nobres
Porque assentam num crescendo literário, são apenas imagens
De um livro sem ilustrações para o qual só nasceu o Poeta
Observador da Tabacaria defronte na rua.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
O fim do início
Onde estou a esta hora?
Que questão incoerente.
O que causa esta demora
E não me deixa contente?...
Se tudo acabar?... tudo um dia acaba.
Mas isso é inoportuno, digamos.
Nem o mais ardente vinho trava
Os dias passados; certos e insanos.
Mas tudo é oportuno...
Escrever é uma brincadeira de criança:
Acaba sempre por crescer para algo maior.
E por vermos e notarmos
Essa metamorfose,
Sou triste e não mato nenhum génio.
Que questão incoerente.
O que causa esta demora
E não me deixa contente?...
Se tudo acabar?... tudo um dia acaba.
Mas isso é inoportuno, digamos.
Nem o mais ardente vinho trava
Os dias passados; certos e insanos.
Mas tudo é oportuno...
Escrever é uma brincadeira de criança:
Acaba sempre por crescer para algo maior.
E por vermos e notarmos
Essa metamorfose,
Sou triste e não mato nenhum génio.
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Ser grande e grandioso é virtude de ser pequeno numa área também ela pequena
Perdi a vontade de não escrever.
Soltou-me. Estou livre agora!
Como uma máquina, maquineio
Deveras directamente o teclado.
Teclado que outrora era mecânico.
E agora há-os mecânicos novamente.
Mas não pensem que fazem escrever
Melhor ou dirigir os pensamentos
De modo mais abstracto na folha web.
São só modos de construção diferentes.
São só resultados de pensamentos diferentes;
Para pessoas existencialmente diferentes;
Que querem coisas diferentes e que, enfim,
Diferem em todas as semelhanças.
Não há mal em querer coisas diferentes.
Na História, todos os progressos começam
Quando outro diferente acaba.
Assim se evolui. Diferencialmente.
O paradigma mata a concepção.
O dogma mata a ideia renovada.
O filho de outrora será o pai do amanhã.
O Amanhã é filho do futuro recente.
E ninguém, só Deus - nem Deus,
Sabe o que existiu ontem.
Jamais o que existirá amanhã.
Soltou-me. Estou livre agora!
Como uma máquina, maquineio
Deveras directamente o teclado.
Teclado que outrora era mecânico.
E agora há-os mecânicos novamente.
Mas não pensem que fazem escrever
Melhor ou dirigir os pensamentos
De modo mais abstracto na folha web.
São só modos de construção diferentes.
São só resultados de pensamentos diferentes;
Para pessoas existencialmente diferentes;
Que querem coisas diferentes e que, enfim,
Diferem em todas as semelhanças.
Não há mal em querer coisas diferentes.
Na História, todos os progressos começam
Quando outro diferente acaba.
Assim se evolui. Diferencialmente.
O paradigma mata a concepção.
O dogma mata a ideia renovada.
O filho de outrora será o pai do amanhã.
O Amanhã é filho do futuro recente.
E ninguém, só Deus - nem Deus,
Sabe o que existiu ontem.
Jamais o que existirá amanhã.
sábado, 17 de outubro de 2015
Num estado febril
As noivas de Outubro não se sentem bem.
São mais gordinhas que as antecedentes
Porque se arrecadam mais tarde na noite.
Num estado febril.
Chega a Primavera antecessora e choram,
Convulsionando os parceiros delgados.
Que ai deles que deixem passar o Verão!
E assim comem mais.
E quantas arritmias lhes estão destinadas?
Porque um homem pensa é nisso...
E quantos sorrisos se encravarão no papo grosso?
Será que o sapato de Cinderela casamenteira caberá?
Por fim se faz Dezembro e tudo passa porque é Natal.
São mais gordinhas que as antecedentes
Porque se arrecadam mais tarde na noite.
Num estado febril.
Chega a Primavera antecessora e choram,
Convulsionando os parceiros delgados.
Que ai deles que deixem passar o Verão!
E assim comem mais.
E quantas arritmias lhes estão destinadas?
Porque um homem pensa é nisso...
E quantos sorrisos se encravarão no papo grosso?
Será que o sapato de Cinderela casamenteira caberá?
Por fim se faz Dezembro e tudo passa porque é Natal.
terça-feira, 29 de setembro de 2015
O que é bom é não ter opiniões em nada
O que é bom é não ter opiniões em nada.
Andar aborrecido com tudo.
Viver de acordo com a atitude inerte
De quem viveu uma vida parada
E apareceu sempre com cara de sisudo.
Quem viveu assim não se livrou da morte.
Mas que falta lhe fez as opiniões
Se viveu e foi feliz?
Talvez não fosse tanto assim.
Os conceitos de "feliz" são as considerações
De velhos estudiosos. Ufa! Foi por um triz!
É que lembrar definições deixa impacto em mim.
Assim posso continuar a viver descansado.
Serei assim ou assado?
Quem o saberá? Eu não serei.
Ninguém me vê como rei
E só eu me sinto como sou.
Espera por mim, inércia, que já vou!
Andar aborrecido com tudo.
Viver de acordo com a atitude inerte
De quem viveu uma vida parada
E apareceu sempre com cara de sisudo.
Quem viveu assim não se livrou da morte.
Mas que falta lhe fez as opiniões
Se viveu e foi feliz?
Talvez não fosse tanto assim.
Os conceitos de "feliz" são as considerações
De velhos estudiosos. Ufa! Foi por um triz!
É que lembrar definições deixa impacto em mim.
Assim posso continuar a viver descansado.
Serei assim ou assado?
Quem o saberá? Eu não serei.
Ninguém me vê como rei
E só eu me sinto como sou.
Espera por mim, inércia, que já vou!
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
Furiosamente escrevo dois ou três versos
Furiosamente escrevo dois ou três versos.
Paro contemplativo e ambiciono o dobro.
"Talvez esteja bom assim, não tem rima mas está bom."
E para me ajudar, uma sala escura embainhada
Na luminosidade que o ecrã transborda.
Esses versos iniciais eram sobre o quê?
Sobre um ministro do leste corrupto que tinha
A filha doente? Ou sobre o amor parvo e ardente?
Sobre o céu decadente que se abriu hoje em enxurrada?
Sobre Deus e as razões de tudo isto existir?
Sei só que eram furiosos; maquinalmente arquitectados.
Com compasso e régua, que são a ponta dos dedos no laptop,
E sem um dicionário de sinónimos pertinente,
Escrevo o que devo escrever que é o que não quero sentir.
Sinto muito quando não estou a jeito de pegar na escrita.
Escrevo muito quando não estou afim ao pensamento.
E tudo isso é lixo caótico e irresponsável.
Tudo isso é uma folha amarrotada e arremessada
Sem sucesso ao lixo diagonal à minha posição;
Tal como é oblíqua a matéria da escrita composta e confusa.
Levanto-me. Recordo-me dos versos de abertura automática
E recupero o papel amachucado. A caneta afinal é digital
E a folha não tem um significado físico, somente electrónico.
A electricidade flui compadecida pela electricidade que flui
Nos meus neurónios ímpetos, ora o design da primeira é
Por esta última desenhado, testado e, se tudo correr bem, aprovado.
Voltemos àquela sextilha de imagens entre digital e analógico.
Há quem apenas confie no analógico que guarda tudo afastado
Dos grandes centros de dados e da acessibilidade facilitada.
Mas eu não. Compreendo criptografia electrónica e guardo tudo
Neste sítio composto de unidades e nulidades - bits e words - e
Daí para a frente é sempre a exponenciar o potencial expoente.
Vejo-me forçado a concluir o que nem chegou a iniciar.
Vejo-me esmagado pelo tempo que ora não passa,
Ora já nem estou a pensar nisso, que há coisas consequentes.
Isto não tem consequência.
Um trabalho tem.
O mundo e as suas necessidades têm.
A única consequência disto é não definir "isto" e deixar tudo
Aos únicos cuja consequência impossível pode afectar.
Paro contemplativo e ambiciono o dobro.
"Talvez esteja bom assim, não tem rima mas está bom."
E para me ajudar, uma sala escura embainhada
Na luminosidade que o ecrã transborda.
Esses versos iniciais eram sobre o quê?
Sobre um ministro do leste corrupto que tinha
A filha doente? Ou sobre o amor parvo e ardente?
Sobre o céu decadente que se abriu hoje em enxurrada?
Sobre Deus e as razões de tudo isto existir?
Sei só que eram furiosos; maquinalmente arquitectados.
Com compasso e régua, que são a ponta dos dedos no laptop,
E sem um dicionário de sinónimos pertinente,
Escrevo o que devo escrever que é o que não quero sentir.
Sinto muito quando não estou a jeito de pegar na escrita.
Escrevo muito quando não estou afim ao pensamento.
E tudo isso é lixo caótico e irresponsável.
Tudo isso é uma folha amarrotada e arremessada
Sem sucesso ao lixo diagonal à minha posição;
Tal como é oblíqua a matéria da escrita composta e confusa.
Levanto-me. Recordo-me dos versos de abertura automática
E recupero o papel amachucado. A caneta afinal é digital
E a folha não tem um significado físico, somente electrónico.
A electricidade flui compadecida pela electricidade que flui
Nos meus neurónios ímpetos, ora o design da primeira é
Por esta última desenhado, testado e, se tudo correr bem, aprovado.
Voltemos àquela sextilha de imagens entre digital e analógico.
Há quem apenas confie no analógico que guarda tudo afastado
Dos grandes centros de dados e da acessibilidade facilitada.
Mas eu não. Compreendo criptografia electrónica e guardo tudo
Neste sítio composto de unidades e nulidades - bits e words - e
Daí para a frente é sempre a exponenciar o potencial expoente.
Vejo-me forçado a concluir o que nem chegou a iniciar.
Vejo-me esmagado pelo tempo que ora não passa,
Ora já nem estou a pensar nisso, que há coisas consequentes.
Isto não tem consequência.
Um trabalho tem.
O mundo e as suas necessidades têm.
A única consequência disto é não definir "isto" e deixar tudo
Aos únicos cuja consequência impossível pode afectar.
terça-feira, 15 de setembro de 2015
Ao me ir embora lentamente, levo Faro guardado na mala
Ao me ir embora lentamente, levo Faro guardado na mala,
Que é pacote inevitável de viagem numa solarenga manhã de Novembro.
Recordo-me. Sim - recordo-me. Não sei precisar o mês ou o dia,
Mas a hora é infinitamente o meio-dia. Sim - meio dia em ponto.
Meio dia levei para decidir e outro meio para contemplar.
Um dia para esquecer e mais outro para me iludir.
E assim me fui embora - mas não fui o único, ou o primeiro.
Era uma cidade estranha, cheia de coisas novas.
Pequena e solarenga, podia ser vista só num dia
Para quem gosta de ver coisas já demasiado vistas.
Mas eu nunca a vi de perto: só ao longe, afastado
Pelo medo de me prender e ficar lá agarrado.
Assim me fui embora: com um medo residual
E com muita pouca confiança; tão pouca que até me queria mal.
Eu queria-me mal, eu queria-me fraco e inútil.
Mas Faro é que me queria fraco e inútil.
O ALGARVE todo queria-me fora deste jogo, esse fraco e inútil.
Mas eu resisti e aguardei.
E aguardei.
E enquanto me restar alguma alma, seja fraca
Ou prestes a partir, franca ou imunda, desde que se lhe possa
Chamar alma ou alguma coisa assim pela linguagem tomada,
Aguardarei.
Que por Coimbra todos esperamos, até quem
Tem a alma agarrada por uma corda vocal rouca.
Que por Coimbra todos gritamos.
Que por Coimbra todos amamos.
Não há Faro nenhum em bagagem alguma que espere
Ou ame ou grite mais alto que tu, ó capital do Amor em Portugal.
Que é pacote inevitável de viagem numa solarenga manhã de Novembro.
Recordo-me. Sim - recordo-me. Não sei precisar o mês ou o dia,
Mas a hora é infinitamente o meio-dia. Sim - meio dia em ponto.
Meio dia levei para decidir e outro meio para contemplar.
Um dia para esquecer e mais outro para me iludir.
E assim me fui embora - mas não fui o único, ou o primeiro.
Era uma cidade estranha, cheia de coisas novas.
Pequena e solarenga, podia ser vista só num dia
Para quem gosta de ver coisas já demasiado vistas.
Mas eu nunca a vi de perto: só ao longe, afastado
Pelo medo de me prender e ficar lá agarrado.
Assim me fui embora: com um medo residual
E com muita pouca confiança; tão pouca que até me queria mal.
Eu queria-me mal, eu queria-me fraco e inútil.
Mas Faro é que me queria fraco e inútil.
O ALGARVE todo queria-me fora deste jogo, esse fraco e inútil.
Mas eu resisti e aguardei.
E aguardei.
E enquanto me restar alguma alma, seja fraca
Ou prestes a partir, franca ou imunda, desde que se lhe possa
Chamar alma ou alguma coisa assim pela linguagem tomada,
Aguardarei.
Que por Coimbra todos esperamos, até quem
Tem a alma agarrada por uma corda vocal rouca.
Que por Coimbra todos gritamos.
Que por Coimbra todos amamos.
Não há Faro nenhum em bagagem alguma que espere
Ou ame ou grite mais alto que tu, ó capital do Amor em Portugal.
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
Como morrer sozinho e sem amigos
Basta seres tu.
Invencível criatura:
Maior do que a lua
E respeitada na rua.
Basta quereres o mundo todo
Que é teu porque assim acreditas.
Baratear com palavras malditas
Os teus oponentes enterrados em lodo.
Basta quereres com toda a força
E seguires os teus ideais divinos.
Seguires-te a ti própria, ó criatura
Sublime anunciada à distância madura
Por inextinguíveis e ecoantes sinos.
Dizeres com voz alta e firme
Que Deus só assim se chama porque queres.
Comprares o jornal com o teu nome em destaque;
Provar que matas todos em combate
Sem teres que lutar sequer.
Secares os oceanos e negares a maré
Que só guarda benefício para quem em ti tem fé.
Laureares com pertinência a tua entidade
Todos os dias.
Resistires com potência à idade
E achares que o tempo era algo que sentias.
Ó grande ser magnífico;
Criatura indistinguível à luz;
Razão superior e auto-verdadeira:
Antes de partires lembra-te que já cá estiveste.
Invencível criatura:
Maior do que a lua
E respeitada na rua.
Basta quereres o mundo todo
Que é teu porque assim acreditas.
Baratear com palavras malditas
Os teus oponentes enterrados em lodo.
Basta quereres com toda a força
E seguires os teus ideais divinos.
Seguires-te a ti própria, ó criatura
Sublime anunciada à distância madura
Por inextinguíveis e ecoantes sinos.
Dizeres com voz alta e firme
Que Deus só assim se chama porque queres.
Comprares o jornal com o teu nome em destaque;
Provar que matas todos em combate
Sem teres que lutar sequer.
Secares os oceanos e negares a maré
Que só guarda benefício para quem em ti tem fé.
Laureares com pertinência a tua entidade
Todos os dias.
Resistires com potência à idade
E achares que o tempo era algo que sentias.
Ó grande ser magnífico;
Criatura indistinguível à luz;
Razão superior e auto-verdadeira:
Antes de partires lembra-te que já cá estiveste.
terça-feira, 25 de agosto de 2015
O sorriso de um velho
Estavas sozinha, pacata alma;
Solitária a quem passa:
Reconhecível a quem vê.
Estavas quieta, força tal
Que só a velhice ampara
E o desejo dissolve.
Perguntei-te das acções
Que fizeste - "que contas
Ao teu passado?"
Que não é da minha conta?
Respondeste-me com o
Desejo que outrora tiveste.
"Não é da tua conta."
E eu senti-me novo novamente.
Solitária a quem passa:
Reconhecível a quem vê.
Estavas quieta, força tal
Que só a velhice ampara
E o desejo dissolve.
Perguntei-te das acções
Que fizeste - "que contas
Ao teu passado?"
Que não é da minha conta?
Respondeste-me com o
Desejo que outrora tiveste.
"Não é da tua conta."
E eu senti-me novo novamente.
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Entre ser e estar cansado
"Entre ser e estar cansado"
Podia ser o título de um ensaio
Filosófico ou o motivo dado
A uma religião quotidiana.
A primeira: uma forma de viver.
A segunda, quiçá, virá ditar
A decência dum Ser para sempre.
Mas ambas fazem sentir doente...
Ambas são uma pitada de morte
Ambas, pois, as duas, são por certo
A razão de viver e haver alfabeto.
E mais que entre ser e estar,
Fica este soneto a fingir ser
Quem quer e não pode ficar.
Podia ser o título de um ensaio
Filosófico ou o motivo dado
A uma religião quotidiana.
A primeira: uma forma de viver.
A segunda, quiçá, virá ditar
A decência dum Ser para sempre.
Mas ambas fazem sentir doente...
Ambas são uma pitada de morte
Ambas, pois, as duas, são por certo
A razão de viver e haver alfabeto.
E mais que entre ser e estar,
Fica este soneto a fingir ser
Quem quer e não pode ficar.
quinta-feira, 23 de julho de 2015
Bom dia, Bebé: gosta de mim exactamente?
Eu não sei escrever poemas de amor...
São matérias proibidas de pensar,
Sabe, como quando estou consigo
E a quero vulgarmente beijar...
Mas o seu sorrisozinho transparente...
E as reticências múltiplas, que são
Três pontinhos pequeninos como a bebé;
E os diminutivos tão alegres e com fé
De que se chegue à frente e me sorria.
Mas para escrever poemas de amor
E nem sequer pôr os versos a rimar,
(Porque quer claridade lógica
Quando a sua lhe favorece os olhos?)
Mais vale falar-lhe com bons modos
E arranjar um tempinho e telefonar
À bebé e sermos muito felizes os dois.
(Sim, sermos felizes, felizes, felizes.
Mas por ser feliz corrompo o meu fim.
Morro doente e velho e sou feliz.
Que venha a Peste e mate todos os que
me fazem feliz, que eu sou feliz.
O que é bom é ser feliz, feliz, feliz.
E a menina também será, igualmente,
Feliz: três vezes feliz até ser feliz.)
Arre: e quero eu perceber isto de pôr
Graus diminutivos nos adjectivos,
De perder os verbos e todas as partículas
Sintácticas por causa de ser um justo poema.
Mas a menina é tão bonita.
E a menina mete-me louco.
E como sempre louco que sou,
Vi-a hoje a tempo de lhe perguntar:
"Como se chama a menina?"
São matérias proibidas de pensar,
Sabe, como quando estou consigo
E a quero vulgarmente beijar...
Mas o seu sorrisozinho transparente...
E as reticências múltiplas, que são
Três pontinhos pequeninos como a bebé;
E os diminutivos tão alegres e com fé
De que se chegue à frente e me sorria.
Mas para escrever poemas de amor
E nem sequer pôr os versos a rimar,
(Porque quer claridade lógica
Quando a sua lhe favorece os olhos?)
Mais vale falar-lhe com bons modos
E arranjar um tempinho e telefonar
À bebé e sermos muito felizes os dois.
(Sim, sermos felizes, felizes, felizes.
Mas por ser feliz corrompo o meu fim.
Morro doente e velho e sou feliz.
Que venha a Peste e mate todos os que
me fazem feliz, que eu sou feliz.
O que é bom é ser feliz, feliz, feliz.
E a menina também será, igualmente,
Feliz: três vezes feliz até ser feliz.)
Arre: e quero eu perceber isto de pôr
Graus diminutivos nos adjectivos,
De perder os verbos e todas as partículas
Sintácticas por causa de ser um justo poema.
Mas a menina é tão bonita.
E a menina mete-me louco.
E como sempre louco que sou,
Vi-a hoje a tempo de lhe perguntar:
"Como se chama a menina?"
segunda-feira, 13 de julho de 2015
Gabriela
Tu tens cabelos aos caracóis,
Castanhos, longos e engraçados.
Olhos semelhantes, e lábios
Sempre serenos e molhados.
Corpo belo, de fina silhueta;
Pernas delgadas e morenas.
Ao veres-me, olhas apenas;
Desejas o que não comprometa.
E no fim, por fora é perdição.
Quem vê, olha e tudo te tira:
Tens tudo menos corpo são.
Gabriela, vives na Mentira
Por te sacrificares para ela.
A beleza pesa, Gabriela.
Castanhos, longos e engraçados.
Olhos semelhantes, e lábios
Sempre serenos e molhados.
Corpo belo, de fina silhueta;
Pernas delgadas e morenas.
Ao veres-me, olhas apenas;
Desejas o que não comprometa.
E no fim, por fora é perdição.
Quem vê, olha e tudo te tira:
Tens tudo menos corpo são.
Gabriela, vives na Mentira
Por te sacrificares para ela.
A beleza pesa, Gabriela.
terça-feira, 7 de julho de 2015
Quando uma mulher chora
Cale-se o mundo inteiro;
Rode incessante o ponteiro
Que nos indica a dura hora
Quando uma mulher chora.
Faz-se com louco silêncio
O luto inevitável dos teus
Olhos molhados, que Deus
Pôs a chorar por ser macio.
Tu, mulher sem medos,
Ficas louca com a vida.
Na ponta dos teus dedos,
Chorando por sentires,
Fazes-me achar-te perdida
(E afinal foste tu
Que me encontraste.)
Rode incessante o ponteiro
Que nos indica a dura hora
Quando uma mulher chora.
Faz-se com louco silêncio
O luto inevitável dos teus
Olhos molhados, que Deus
Pôs a chorar por ser macio.
Tu, mulher sem medos,
Ficas louca com a vida.
Na ponta dos teus dedos,
Chorando por sentires,
Fazes-me achar-te perdida
(E afinal foste tu
Que me encontraste.)
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Sorri-me assim
Sorri-me assim:
Sentada com compostura
Numa conversa agitada;
Enquanto olhas para mim
E chega aquela altura
De te aproximares animada.
Sorri - sorri para mim!
E quando tu falas entre
Sinais mais ou menos teus,
Espelha os teus olhos nos meus.
Sorri para eu te ver.
És a razão de eu viver,
Mesmo que a minha vida
Passe e não seja sentida.
Para que quero sentimento
Se olhar-te a sorrir
Quebra tudo o que é momento?
Sentada com compostura
Numa conversa agitada;
Enquanto olhas para mim
E chega aquela altura
De te aproximares animada.
Sorri - sorri para mim!
E quando tu falas entre
Sinais mais ou menos teus,
Espelha os teus olhos nos meus.
Sorri para eu te ver.
És a razão de eu viver,
Mesmo que a minha vida
Passe e não seja sentida.
Para que quero sentimento
Se olhar-te a sorrir
Quebra tudo o que é momento?
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Quem foge do amor
Quem foge do amor
Não foge do amor.
Foge da noite a chorar
e de não dormir bem.
Foge do risco e da fúria;
Do ciúme e da traição.
Foge daquela lamúria
Que vem sem explicação.
Enfim nasce o doce sol
E a brisa quente sopra
Com um conforto mole.
E quem foge do sol
Foge de tudo em redor,
Mas nunca do calor.
Não foge do amor.
Foge da noite a chorar
e de não dormir bem.
Foge do risco e da fúria;
Do ciúme e da traição.
Foge daquela lamúria
Que vem sem explicação.
Enfim nasce o doce sol
E a brisa quente sopra
Com um conforto mole.
E quem foge do sol
Foge de tudo em redor,
Mas nunca do calor.
quinta-feira, 28 de maio de 2015
Poema fatalista
Exacto. Estou morto.
Nunca vivi sequer.
Ao passarem por mim,
As pessoas desviam-se por compulsão.
Sou desagradável à vista.
Faço sofrer os sentidos todos:
A minha pele engelhada,
A minha voz azeda e crassa.
A minha vida toda é a ambição de
Amanhã poder acabar com ela.
Seguir o rumo das estrelas
Como um marinheiro do século quinze.
Vislumbro a morte pessoal
No dia que se segue à morte funcional.
Se as coisas forem assim,
A vida é a coisa mais bela que encontrei.
Nunca vivi sequer.
Ao passarem por mim,
As pessoas desviam-se por compulsão.
Sou desagradável à vista.
Faço sofrer os sentidos todos:
A minha pele engelhada,
A minha voz azeda e crassa.
A minha vida toda é a ambição de
Amanhã poder acabar com ela.
Seguir o rumo das estrelas
Como um marinheiro do século quinze.
Vislumbro a morte pessoal
No dia que se segue à morte funcional.
Se as coisas forem assim,
A vida é a coisa mais bela que encontrei.
sexta-feira, 22 de maio de 2015
Para sempre pequeno
Quando eu era grande, só queria ser pequeno.
Não via futuro nas coisas vãs do mundo
E os grotescos homens que me acompanhavam
Não transbordavam bondade para ninguém.
Um dia fui para a cidade e parei de crescer.
Somente isso. Uma dolorosa ruptura instanciada
Pelo estudo das coisas todas que aprendia,
Quais me faziam compreender tudo o que não
Compreendia e me retiravam daquela confortável
Ignorância platónica onde tão bem sabia estar.
Aprender é ficar adulto para sempre. A-E-I-O-U.
(Mas ninguém fica permanentemente garoto e as
Garotices são sem dúvida coisas de gente crescida.)
Classes, objectos, linguagens de computadores?
Sistemas digitais e bases de dados relacionais?
Nada me admira eu andar a aprender a falar
Com máquinas absurdas. Afinal, as máquinas
Ficam para sempre crianças na sua absurdez.
Não via futuro nas coisas vãs do mundo
E os grotescos homens que me acompanhavam
Não transbordavam bondade para ninguém.
Um dia fui para a cidade e parei de crescer.
Somente isso. Uma dolorosa ruptura instanciada
Pelo estudo das coisas todas que aprendia,
Quais me faziam compreender tudo o que não
Compreendia e me retiravam daquela confortável
Ignorância platónica onde tão bem sabia estar.
Aprender é ficar adulto para sempre. A-E-I-O-U.
(Mas ninguém fica permanentemente garoto e as
Garotices são sem dúvida coisas de gente crescida.)
Classes, objectos, linguagens de computadores?
Sistemas digitais e bases de dados relacionais?
Nada me admira eu andar a aprender a falar
Com máquinas absurdas. Afinal, as máquinas
Ficam para sempre crianças na sua absurdez.
quinta-feira, 14 de maio de 2015
Trovador apaixonado
Encerra a guitarra, trovador,
Pois o Mondego está a descer.
A multidão segue o andor
E a ti ainda te custa a crer.
Saudade, ecoas com emoção.
Verdade, pedem-te em união.
O que te faz continuar, trovador?
Se for a cidade, porque te
Encostas naquela Quinta do amor?
Lá há turistas e nenhum estudante.
E da tua feliz garganta afinada
Sai muita coisa mas não sai nada.
Quem queres ver passar, trovador?
Decerto não mudas de poiso
Pois adquiriste a rotina do teu amor.
Ah, o amor! Esse danado coiso!
Pois o Mondego está a descer.
A multidão segue o andor
E a ti ainda te custa a crer.
Saudade, ecoas com emoção.
Verdade, pedem-te em união.
O que te faz continuar, trovador?
Se for a cidade, porque te
Encostas naquela Quinta do amor?
Lá há turistas e nenhum estudante.
E da tua feliz garganta afinada
Sai muita coisa mas não sai nada.
Quem queres ver passar, trovador?
Decerto não mudas de poiso
Pois adquiriste a rotina do teu amor.
Ah, o amor! Esse danado coiso!
segunda-feira, 11 de maio de 2015
A tragédia do amor
Num pequeno gesto
Dá-me
Dá-me
Esse resto
De amor.
Cala-te para sempre
Enquanto,
Quente,
Me dizes tudo.
Segue por fim só e forte:
Na estrada
Do fim;
Da morte.
Viver são sinapses e,
De tempo
A Tempo,
Hematoses.
Aí entendi.
Cala-te para sempre
Enquanto,
Quente,
Me dizes tudo.
Segue por fim só e forte:
Na estrada
Do fim;
Da morte.
Viver são sinapses e,
De tempo
A Tempo,
Hematoses.
Aí entendi.
terça-feira, 21 de abril de 2015
Um homem muito pobre
Ele era um homem muito pobre
E ninguém sabia que existia.
Dois pães secos era o que comia
Enquanto sentado fitava um nobre
Passeando bem elevado na praça.
O pescoço pardo e fino levemente
Se levantara afim de olhar a quente;
Pesava-lhe nos olhos real injustiça.
"Para onde vai com tanta pressa?"
O homem pobre nunca a teve.
"Para que é que lhe interessa?"
A arrogância do nobre breve
Extinguiu-se quando percebeu
Que quem o olhava era um filho seu.
E ninguém sabia que existia.
Dois pães secos era o que comia
Enquanto sentado fitava um nobre
Passeando bem elevado na praça.
O pescoço pardo e fino levemente
Se levantara afim de olhar a quente;
Pesava-lhe nos olhos real injustiça.
"Para onde vai com tanta pressa?"
O homem pobre nunca a teve.
"Para que é que lhe interessa?"
A arrogância do nobre breve
Extinguiu-se quando percebeu
Que quem o olhava era um filho seu.
domingo, 12 de abril de 2015
Embebido no teu perfume
Adormecendo embebido no teu perfume,
Penso na direcção que tomámos firmemente.
Gostava de te dizer por palavras que há
Maneiras de fazer acontecer o melhor em nós
E que me despertas em calmaria de beijos.
Mas é difícil acontecerem diálogos fecundos,
Ora os pensamentos que não se materializam.
Mais um pouco e o levantar das pálpebras
Torna-se imbecilmente moroso e pesado.
Mas pensar em ti com todos os sentidos também.
Recolho-me pela última vez no cobertor
Que cheira a ti e não quer passar despercebido:
Com uma última nuance febril e louca,
Penso como foi beijar-te pela última vez.
Penso na direcção que tomámos firmemente.
Gostava de te dizer por palavras que há
Maneiras de fazer acontecer o melhor em nós
E que me despertas em calmaria de beijos.
Mas é difícil acontecerem diálogos fecundos,
Ora os pensamentos que não se materializam.
Mais um pouco e o levantar das pálpebras
Torna-se imbecilmente moroso e pesado.
Mas pensar em ti com todos os sentidos também.
Recolho-me pela última vez no cobertor
Que cheira a ti e não quer passar despercebido:
Com uma última nuance febril e louca,
Penso como foi beijar-te pela última vez.
quarta-feira, 8 de abril de 2015
Anti-amor
Não foi uma memória extinta
Ou um raio de sonho luminoso.
Definhe-se no tempo misterioso
Essa vida que relembro em tinta.
Mas aquela vontade de te dizer
Acima da dor o que me fez doer,
Nem essa, que é certa como tu,
Me fará parar de sentir roto e nu.
Chega de promessas distantes
Ou orvalhos de manhãs brilhantes
Esperando o que nunca chega.
Foi um perpétuo silêncio perene
De uma velha novidade cega.
No amor só toca quem não aprende.
Ou um raio de sonho luminoso.
Definhe-se no tempo misterioso
Essa vida que relembro em tinta.
Mas aquela vontade de te dizer
Acima da dor o que me fez doer,
Nem essa, que é certa como tu,
Me fará parar de sentir roto e nu.
Chega de promessas distantes
Ou orvalhos de manhãs brilhantes
Esperando o que nunca chega.
Foi um perpétuo silêncio perene
De uma velha novidade cega.
No amor só toca quem não aprende.
quinta-feira, 26 de março de 2015
Filipa
Saí à rua apressado e alguém me sorriu.
Era a Filipa, aquela vizinha suave!
Vive entre a casa arrendada e a universidade
E dizem que tira muito boas notas.
Que estuda ela? Ah, é medicina!
Não deve ter tempo para nada...
"Ontem li os teus sonetos; li-os todos...",
Disse-me enquanto eu fechava o portão.
"Estão muito belos; tão belos que tudo são!"
A Filipa tem metafísica e consciência carnal.
Perguntei-lhe o que fazia: arrumava o quintal.
Eu, que estava atrasado, aproximei-me
Da sua casa paralela. Vendo-a varrer,
Deixei-lhe o meu caderno privado de sonetos.
Era a Filipa, aquela vizinha suave!
Vive entre a casa arrendada e a universidade
E dizem que tira muito boas notas.
Que estuda ela? Ah, é medicina!
Não deve ter tempo para nada...
"Ontem li os teus sonetos; li-os todos...",
Disse-me enquanto eu fechava o portão.
"Estão muito belos; tão belos que tudo são!"
A Filipa tem metafísica e consciência carnal.
Perguntei-lhe o que fazia: arrumava o quintal.
Eu, que estava atrasado, aproximei-me
Da sua casa paralela. Vendo-a varrer,
Deixei-lhe o meu caderno privado de sonetos.
quinta-feira, 19 de março de 2015
Fecham-se os olhos
Certo é que se fecharmos os olhos,
Escuridão é tudo o que vemos.
Resta-nos o sonho de apenas
Ver com a nossa imaginação
Estes pensamentos do dia-a-dia.
Juntemos então a isso o desejo de
Abrir para sempre os olhos.
Escuridão é tudo o que vemos.
Resta-nos o sonho de apenas
Ver com a nossa imaginação
Estes pensamentos do dia-a-dia.
Juntemos então a isso o desejo de
Abrir para sempre os olhos.
terça-feira, 3 de março de 2015
Errar é fixe, conas de merda!
Errare humanum est. Penso eu.
Não me cometo com exclusividade aos enganos graves que prejudicam as pessoas ao nosso redor quando vulgarizo a idiota falta de eficácia humana, comummente conhecida por 'erro'. Se mais tempo fosse aproveitado para discutir os problemas graves do mundo e as grandes questões - de voluptuosa natureza - seriamos todos mais felizes. Por certo, quem discorda disto nunca vislumbrou mamas de uma maneira extremamente esotérica.
O quanto são ridículos os adolescentes que incessantemente despojam largas horas afogados em pensamentos absurdos direccionados ao sexo oposto, cismando que talvez aquela particular interacção anteontem com aquela específica rapariga, ou rapaz, fosse mal efectuada e, doravante, interacções semelhantes passarão a ser consideradas erros. Ah - os grandes erros da adolescência infinita! Ah - como o mundo parece por vezes tão mal moldado por ti, vulgar adolescente insignificante.
Enfim, se esses erros forem os teus e não os de mais ninguém, erra com uma força enorme! Mas erra enquanto podes, porque por enquanto és adolescente e não és absolutamente mais nada - nem para ti nem para mais ninguém. Como consequência lógica disso, os teus erros também não são nada no panorama global dos erros diários cometidos por aqueles que fazem diferença no mundo.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Elisa
Para Elisa o mundo brilha
E o suave piano dual começa.
O tempo sinfónico atravessa
Os atalhos que a vida trilha
Enquanto, pura, Elisa escuta
Com os seus grandes olhos.
Nestes dias de pequenos sonhos
E de estáticas e complexas lutas,
Ver compor por quem não ouve
A bela e alemã obra de piano,
Ainda que nem suspeitas houve
Do ancião e audaz amor leviano,
Faz calar as luzes e concretiza
Brilhante e eterna vida para Elisa.
E o suave piano dual começa.
O tempo sinfónico atravessa
Os atalhos que a vida trilha
Enquanto, pura, Elisa escuta
Com os seus grandes olhos.
Nestes dias de pequenos sonhos
E de estáticas e complexas lutas,
Ver compor por quem não ouve
A bela e alemã obra de piano,
Ainda que nem suspeitas houve
Do ancião e audaz amor leviano,
Faz calar as luzes e concretiza
Brilhante e eterna vida para Elisa.
domingo, 22 de fevereiro de 2015
O pálido ponto azul suspenso num raio de sol
Quando o Universo decidiu
À Terra dar a divina vida,
Ainda que agora perdida,
Não soube o que sentiu.
Na altura de hora crassa
Fez as terras e os rios;
Os homens, esculpiu-os
Pondo-lhes uma certa graça.
Olhou-nos por fim o Universo
Ao longe envolto, de leve,
Numa sólida lágrima breve,
Vendo o seu maior sucesso:
A Terra de norte a sul;
Este pálido ponto azul.
domingo, 15 de fevereiro de 2015
Soneto silencioso
Era tarde, sabíamos, para nos amarmos.
Ainda assim escolhemos os abraços sóbrios
Para serem o refúgio do nosso romance.
Esses abraços extensíveis no tempo...
Tantas estórias sobre o excessivo e enervante
Amor que denunciámos; quantas lutas lógicas
Tentámos, na esperança perdida de querer mais,
Um contra o outro, ferozes, impecáveis, dissipar.
Longe, onde moras, as pessoas casam com quem
Lhes pertence. Fazem filhos e dão-lhes a Vida
Que lhes resta... A ti deram-te a Morte certa.
Porque cansas quem te quer e assustas o Futuro,
Afastaste-te precoce, e sem ti apenas restou
Um silêncio inimaginavelmente ensurdecedor.
Ainda assim escolhemos os abraços sóbrios
Para serem o refúgio do nosso romance.
Esses abraços extensíveis no tempo...
Tantas estórias sobre o excessivo e enervante
Amor que denunciámos; quantas lutas lógicas
Tentámos, na esperança perdida de querer mais,
Um contra o outro, ferozes, impecáveis, dissipar.
Longe, onde moras, as pessoas casam com quem
Lhes pertence. Fazem filhos e dão-lhes a Vida
Que lhes resta... A ti deram-te a Morte certa.
Porque cansas quem te quer e assustas o Futuro,
Afastaste-te precoce, e sem ti apenas restou
Um silêncio inimaginavelmente ensurdecedor.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
A velocidade da Fé e a distância de Deus
Parece-me que a fé é inextinguível. Bem - de acordo com a primeira lei da termodinâmica tudo o é.
Na noite estrelada da minha aldeia, sem poluições visuais que impeçam o olhar de alcançar Orion, Cassiopeia e outras constelações na cidade apagadas, vislumbro o cosmos como ele era antigamente, há milhares e, quiçá, milhões de anos. Tudo porque a luz desse cosmos é, concorrentemente à fé, limitada por uma velocidade.
Mas a fé também tem uma velocidade qualquer... Certamente, para a conhecermos, devemos primeiro perceber em que material se propaga esta brisa divina que diariamente faz acordar pessoas devotas com alegria e vontade. Não acredito que seja no ar, até porque no primeiríssimo versículo do Génesis está descrito que "Deus criou os céus e a terra". Ora, se a Bíblia principia com os dois elementos distintos do nosso mundo - terra e ar - sem que antes fale de luz, trevas e Vida, poderemos afirmar que Deus tem pinta de arquitecto e não de físico de partículas - considerando que a Fé pode ser dividida infinitesimalmente em indivisíveis corpúsculos, à semelhança da luz. Posto isto: Deus pensa no material antes de pensar no que nele se pode propagar. Por isso é que se baptizam as crianças e se crismam os jovens.
Deitada por terra a hipótese de conhecer a velocidade da Fé através do meio em que se propaga, vejamos quanto tempo demora esta a propagar-se desde a sua fonte até ao seu receptor. Aqui fica tudo mais interessante, até porque negar que a fonte da Fé é Deus seria deitar por terra milhares de anos de uma religião por gerações orquestrada. Mas ainda assim desconfio que a teoria da evolução se pode evocar divinamente. Ainda assim desconfio que Deus não é a origem da Fé. Deus não é a origem de nada. Parece-me.
Isto, dito assim, pode subentender alguma arrogância e ousadia perigosa. Portanto, para equilibrar a balança moral, ofereço uma hipótese: a Fé chega-nos antes de existir. Ao contrário do conforto, do medo e de todas as coisas que se sentem, a Fé é consequência da nossa incompreensão. Ora se não compreendemos, como podemos atribuir-lhe um dado físico como a distância ou sequer a existência?
Deus, concluo, é a incompreensão que move a Ciência e o Homem como um todo. Nunca se adorou uma pedra porque está parada num sítio e pode ver-se com clareza. Nunca se adorou uma pedra porque a pedra não nos diz nada e porque há muitas.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Diana
Deontológica Diana;
De saberes na fé enraizados,
O teu sabor de vida insana
Não faz jus à moralizada
Questão dos idos tempos.
Que questão pertinente...
Outrora: certos ventos;
Agora: quem cala, mente.
Na foz do rio, quando
Ele acaba e se torna mar,
Serás somente oxidação
Numa rota sem ar.
Impossível à visão,
Nada te fará abrandar.
De saberes na fé enraizados,
O teu sabor de vida insana
Não faz jus à moralizada
Questão dos idos tempos.
Que questão pertinente...
Outrora: certos ventos;
Agora: quem cala, mente.
Na foz do rio, quando
Ele acaba e se torna mar,
Serás somente oxidação
Numa rota sem ar.
Impossível à visão,
Nada te fará abrandar.
sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
Rio Mondego
A fantasia mergulha,
Vaga, nas tuas ondas morenas.
Diante tuas passagens estreitas,
Concentrada está a tua Ciência;
A tua análise e Biologia completas.
Nada te faz falta porque
Ininterruptamente te destina
O desanimado Oceano.
Nem que sequem os céus...
Cursarás desde a nascente serrana
À foz de feição ribeirinha.
Passas por aqui porque
Assim o decidiste no teu rumo inicial.
Ou em significação consequente,
Porque assim a todos convém,
Decidiram aqui se fixar.
E tu, que és rio passivo, não negaste.
As tuas águas movem-se.
Nas tempestades és o dinâmico diabo.
Mas também és um rio.
Com origem e fim.
Assim, nunca dirás nada:
Nem que eu fale para ti.
Coimbra
Vaga, nas tuas ondas morenas.
Diante tuas passagens estreitas,
Concentrada está a tua Ciência;
A tua análise e Biologia completas.
Nada te faz falta porque
Ininterruptamente te destina
O desanimado Oceano.
Nem que sequem os céus...
Cursarás desde a nascente serrana
À foz de feição ribeirinha.
Passas por aqui porque
Assim o decidiste no teu rumo inicial.
Ou em significação consequente,
Porque assim a todos convém,
Decidiram aqui se fixar.
E tu, que és rio passivo, não negaste.
As tuas águas movem-se.
Nas tempestades és o dinâmico diabo.
Mas também és um rio.
Com origem e fim.
Assim, nunca dirás nada:
Nem que eu fale para ti.
Coimbra
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
A definitiva análise canónica do epitélio malpighiano
Não encontro em ti quaisquer indícios que apontem directos para a tua fragilidade erótica. Segues uma linha de vida paralela aos teus desejos, cuja distância inalterável, por sorte, é facilmente anulada. Vive para os desejos - com compulsividade e admiração pródiga pelas loucuras que finges não cometer! Ah, doce rosto angelical, tão somente máscara.
És admirável por guardares atrás de ti o eterno milagre da vida.
E firmando os teus olhos, beijando os teus lábios, escrevendo o futuro num acto louco de amor, te vês espelhada nas estrelas, que não brilham hoje mas logo brilharão.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
Poema do "Se"
Se te vês inserido numa fé,
Mas da nobre razão usurpado;
Se rezas para o bem universal,
Mas pecas a vida sentado;
Se na discórdia vês terror
E na falta argumentativa
Ainda te achas Senhor;
Se as opiniões para ti
São estacas profundamente
No teu solo de areia enterradas;
Se encontras somente amor
Na raiz de todo o final bem;
Então estuda: faz de conta
Que o mundo é todo teu.
Mas da nobre razão usurpado;
Se rezas para o bem universal,
Mas pecas a vida sentado;
Se na discórdia vês terror
E na falta argumentativa
Ainda te achas Senhor;
Se as opiniões para ti
São estacas profundamente
No teu solo de areia enterradas;
Se encontras somente amor
Na raiz de todo o final bem;
Então estuda: faz de conta
Que o mundo é todo teu.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
É a hora! Valete, Frates!
Imoral. |
Ele foi o primeiro a desenhar. |
Os "Canards" (patos; referência aos jornais franceses) voam mais alto que as armas. |
Porquê?... (Espingarda? Kalashnikov? Granada?) |
Que pequena arma é esta que nos fere tanto? |
Eu sou Charlie. |
Como se precisássemos de mais editores sisudos nas nossas costas, ameaçando cortes! |
Oh, não... Estes não... |
Estes cartoons foram desenhados por artistas um pouco por todo o mundo como forma de resposta ao atentado terrorista à redacção do Charlie Hebdo.
Que se una a arte ao protesto e o incómodo à liberdade de expressão.
Todos os desenhos estão assinados pelos devidos autores.
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