Tenho um quadro no meu quarto.
Um menino chorando: dizem ser cigano.
De vez em quando olho perplexo,
Então pensando: menino, porque estás chorando?
Ele, a tela, nada me diz; que é um quadro.
Então resolvo: se, como dizem, és cigano,
Mas estás pintado, porque te desenharam chorando?
E cada vez me interrogo mais.
Continuo em pé, fitando a obra do menino chorando.
É quando me vem ao pensamento que ao menino,
Sereno e composto, há de ter sucedido algum tormento.
É que o cigano chora desde que me lembro!
Levo a mão ao queixo, eu filósofo aprendendo:
(Então infiro que deitei tudo a perder).
O tom castanho confere o Outono artístico
E a leve pincelada nos olhos esbugalhados
Dão a certeza que o hábil pintor não sabia
Ao certo porque estava o menino chorando.
Quem tem certezas tem mão firme a pintar.
Talvez o artista, vendo seus sonhos caírem
como folhas fracas, resolvesse chorar na
Tela através do desespero do cigano,
Aparentemente calmo e contraditório.
Vim a saber afinal que o menino chorando
Rendeu bem pelos sonhos do pintor.
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