Acordas e sentes um vazio de alma, de identidade. Um súbito momento - o momento em que despertaste, em que o teu corpo deixou de estar num estado de sonolência para passar a realizar metabolismos biológicos, orgânicos e neurológicos - foi o suficiente para que uma nova realidade se instalasse em ti, que crescesse exponencialmente, que ocupasse toda a tua preocupação momentânea. Pensas vagamente em tudo o que fazes durante o teu dia: levantas-te, vestes-te, comes, trabalhas e, em instantes que deveriam ser de distracção, finges estar entretido por um aparelho multimédia. Com o pensamento vem a sua consequência: descobres que tudo isto, estes costumes diários, esta rotina deambulatória, não te preenchem, não te definem nem fazem de ti o que realmente queres ser. Sentes-te angustiado, asfixiado pela realidade que te atinge tão friamente, tão eficazmente e repentinamente que um tiro, nesta situação, parceria uma leve carícia. Choras em vão por saberes de ti pouco mais que o teu nome: nome esse tão próprio que nem foras tu que o escolheras; choras por seres o resultado de sonhos passados, de angústias e devaneios de outras pessoas, por te veres condicionado e guiado por opções que não foram feitas por ti, foram feitas por quem, durante este tempo todo, chamaste "pais". Ocorre-te, porém, que essa revolta pela tristeza abafada e pelas lágrimas amainada pode mudar alguma coisa que, com esperança, se possa transformar em tudo. Por pensares de modo tão inquieto chegas por fim a uma conclusão: todas as perguntas que podem ser feitas cabem noutras duas que não podem ser feitas: "Quem sou eu?"; "Porque sou eu?". A chegada racional a estas interrogações param o desespero e a ansiedade porque a sua impossibilidade de terem uma resposta imediata te obrigam a, continuamente, progressivamente, ao longo de um tempo de vida, procurares a tal solução. Ainda deitado, mas mais desperto, concluis que cabe a ti preencheres a tua vida, a tornar cada dia único, cada momento inesquecível, cada memória sorriso. Apercebes-te como é difícil alcançar a facilidade de ser feliz, mas o desejo em ti implantado faz-te um brilho nos olhos que certamente te firmará um sorriso verdadeiro e único nos teus lábios ansiosos por dizer a frase "sou feliz". E é nesse preciso instante que estás deitado numa cama no centro do teu universo, com um sorriso inexplicável na cara, com a força de mil cavalos dentro de ti para iniciares a jornada que é dar um sentido à vida.
Deus est solus scrutator cordium.
sábado, 30 de março de 2013
quinta-feira, 28 de março de 2013
Julieta
Pego numa caneta e escrevo:
procuro na folha alento,
na tinta o sangue de teu servo,
nos que lêem algum talento.
Já fiz belas obras poéticas:
umas serviram de morte
às pessoas patéticas
que não encontram o norte,
outras foram muito lindas,
mas nunca seriam entendidas
no prazer de serem lidas,
pois há nas letras coisas escondidas.
Se um poeta ao escrever
oferece apenas amor,
na sua mente, há que ver,
não existe nada mais que dor.
procuro na folha alento,
na tinta o sangue de teu servo,
nos que lêem algum talento.
Já fiz belas obras poéticas:
umas serviram de morte
às pessoas patéticas
que não encontram o norte,
outras foram muito lindas,
mas nunca seriam entendidas
no prazer de serem lidas,
pois há nas letras coisas escondidas.
Se um poeta ao escrever
oferece apenas amor,
na sua mente, há que ver,
não existe nada mais que dor.
quarta-feira, 20 de março de 2013
Inspiração
Tudo o que me resta é fugir.
Poderia dizer que o ideal
seria lutar, não desistir.
Mas em que se suporta
essa insistência, que apenas
me dá dormência e tristeza?
Porra, que sou o que não sou.
Vejo-me, talvez em sonhos,
a lutar e a conseguir, a idealizar
conceitos concretizados e
ideias que são minhas e únicas.
Que raiva, que vazio de pensamento,
que se me dá para explicar,
mais vago fica esse tormento,
com mais coisa nenhuma se preenche.
Triste coração decadente,
que tenta combater
esse encéfalo dormente.
Ah, os dois tendem em preencher
tudo além do coração e da mente.
E nesta criação, vejo, nada criei.
Poderia dizer que o ideal
seria lutar, não desistir.
Mas em que se suporta
essa insistência, que apenas
me dá dormência e tristeza?
Porra, que sou o que não sou.
Vejo-me, talvez em sonhos,
a lutar e a conseguir, a idealizar
conceitos concretizados e
ideias que são minhas e únicas.
Que raiva, que vazio de pensamento,
que se me dá para explicar,
mais vago fica esse tormento,
com mais coisa nenhuma se preenche.
Triste coração decadente,
que tenta combater
esse encéfalo dormente.
Ah, os dois tendem em preencher
tudo além do coração e da mente.
E nesta criação, vejo, nada criei.
quinta-feira, 14 de março de 2013
Poema de amor
Lá vem meu amor
de alma inocente.
Guarda fulgor
no peito ardente
e consciência de dor
que não sabe o que sente.
Vem vestida de cor
vermelha; mente
modesta e fala melhor
pelo coração carente,
genuíno e fingidor
do que pela boca que mente.
Evita ser olhada
pelo rosto acutilante;
diz ser duplamente facetada,
com o olhar penetrante
e a parte duvidosa desejada.
Mas meu amor pode descansar:
tenho o poder apaixonado
de ser capaz de sentir e observar,
de ter um mundo abandonado
só para mim, de conservar
aquela alegria de ser amado
e a grande dor de amar.
de alma inocente.
Guarda fulgor
no peito ardente
e consciência de dor
que não sabe o que sente.
Vem vestida de cor
vermelha; mente
modesta e fala melhor
pelo coração carente,
genuíno e fingidor
do que pela boca que mente.
Evita ser olhada
pelo rosto acutilante;
diz ser duplamente facetada,
com o olhar penetrante
e a parte duvidosa desejada.
Mas meu amor pode descansar:
tenho o poder apaixonado
de ser capaz de sentir e observar,
de ter um mundo abandonado
só para mim, de conservar
aquela alegria de ser amado
e a grande dor de amar.
domingo, 10 de março de 2013
Análise
Só tenho escrito poemas.
Não há altura nenhuma
em que apeteca escrever uma
novela ou um ensaio
essencial corrido de
pensamentos e características
do que os homens são por dentro.
Tem sido tudo negativo,
desafortunado de lógica
e governado pelos sentimentos.
Agora caio novamente
em verso decadente.
Talvez por me sentir vazio,
no ócio de fazer tudo,
não tenha feito nada.
Sou só um escritor.
Não grito nem proclamo
novas modas ou estilos,
não sou original nem tenho
ideias próprias que ninguém
teve ainda. Muito menos
faço planos no que devo
fazer e modestamente pensar.
Depois falam-me em sorte,
como se a fizessem.
Sorte têm aqueles que sofrem
por amor, porque sabem
do que sofrem, conhecem
o problema e lutam pela solução.
Mas eu, por nada sofro,
por nada vivo, por nada respiro.
Se morro um dia, é porque
quem sou já está morto.
Não há altura nenhuma
em que apeteca escrever uma
novela ou um ensaio
essencial corrido de
pensamentos e características
do que os homens são por dentro.
Tem sido tudo negativo,
desafortunado de lógica
e governado pelos sentimentos.
Agora caio novamente
em verso decadente.
Talvez por me sentir vazio,
no ócio de fazer tudo,
não tenha feito nada.
Sou só um escritor.
Não grito nem proclamo
novas modas ou estilos,
não sou original nem tenho
ideias próprias que ninguém
teve ainda. Muito menos
faço planos no que devo
fazer e modestamente pensar.
Depois falam-me em sorte,
como se a fizessem.
Sorte têm aqueles que sofrem
por amor, porque sabem
do que sofrem, conhecem
o problema e lutam pela solução.
Mas eu, por nada sofro,
por nada vivo, por nada respiro.
Se morro um dia, é porque
quem sou já está morto.
segunda-feira, 4 de março de 2013
Esgotei os títulos
Revolucionária situação
criada pela imaginação,
em que te suportas tu?
Vens ingénua, ambígua:
Cheia de coisas que não importam.
(E se importassem, para que dariam?)
Escasseias de precisão
e és impossível ser
exacta e escrita na letra.
Em exclusivo te configuro,
assim te vejo, multidimensional,
intransponível no tempo,
inconsiderável no espaço...
Não pertences a nada.
Nada abstracto...
No que te vejo, não me pareces.
O que é o nada, enfim?
O limite do tudo, verosimilhança
da pequenez das coisas pequenas.
Mas a coisa que na imaginação
se dava grande, vai diminuta como
a razão vai com o tempo...
Por te definir, te limitei, pensamento.
Por te desenvolver te completei, ideal.
Quero ser feliz, com um possível sentimento
de querer ser feliz... Tal e qual.
criada pela imaginação,
em que te suportas tu?
Vens ingénua, ambígua:
Cheia de coisas que não importam.
(E se importassem, para que dariam?)
Escasseias de precisão
e és impossível ser
exacta e escrita na letra.
Em exclusivo te configuro,
assim te vejo, multidimensional,
intransponível no tempo,
inconsiderável no espaço...
Não pertences a nada.
Nada abstracto...
No que te vejo, não me pareces.
O que é o nada, enfim?
O limite do tudo, verosimilhança
da pequenez das coisas pequenas.
Mas a coisa que na imaginação
se dava grande, vai diminuta como
a razão vai com o tempo...
Por te definir, te limitei, pensamento.
Por te desenvolver te completei, ideal.
Quero ser feliz, com um possível sentimento
de querer ser feliz... Tal e qual.
sábado, 2 de março de 2013
Dizem que o amor
Dizem que o amor
dá vontades imensas;
de abraçar
de beijar
de sonhar
de viver
de ter emoções intensas.
Dizem que o amor
não fala, não explica;
se falasse, que diria?
se sentisse, que faria?
Dizem que do amor
não se sabe nada,
e que destina rancor
a quem o guarda.
Dizem, mil vezes
dizendo, que quem
ama vai sofrendo.
Que fala curto
e baixinho,
diz o que não pensa
porque não pensa.
E se o amor cair,
que caia a vida,
pois de vida não
se faz o amor, mas
de amor se faz a vida.
dá vontades imensas;
de abraçar
de beijar
de sonhar
de viver
de ter emoções intensas.
Dizem que o amor
não fala, não explica;
se falasse, que diria?
se sentisse, que faria?
Dizem que do amor
não se sabe nada,
e que destina rancor
a quem o guarda.
Dizem, mil vezes
dizendo, que quem
ama vai sofrendo.
Que fala curto
e baixinho,
diz o que não pensa
porque não pensa.
E se o amor cair,
que caia a vida,
pois de vida não
se faz o amor, mas
de amor se faz a vida.
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