quarta-feira, 18 de maio de 2016
Antibes à noite
Dois homens, pescando no breu,
Com lamparinas fracas chamam ao isco o peixe.
Agachado no barco, um alcança a água
Com um fio curto, qual dificuldade é pescar quando nada se vê.
O outro, com uma forquilha de quatro dentes,
Tenta dissimular um peixe gordo que, curioso, veio ao cimo da água.
Peixe - essa tua fuga ao que és te condenou à fogueira.
Mosquitos e traças compõem a atmosfera envolvente,
O que seria de esperar, porque a noite tem distúrbios naquele lugar.
As traças não incomodam os homens, que para a tarefa de apanhar
Algum peixe decente, têm de se imaginar eles-próprios peixes.
E os mosquitos são temporários - a fome é perpétua.
Na margem, duas moças. Uma, de bicicleta em punho
Saboreia um sensual gelado chamativo.
Os pescadores ignoram. Gelado, corpo de mulher? Isso não é pesca.
A outra, de delgada figura, pousa acenando aos homens e sua arte.
Quem são estas mulheres?
Quem são estes pescadores?
O do arpão prestes a concluir a sua tarefa?
O da linha, abaixado, com dificuldade em ver os peixes?
Será um o presente e o outro o passado?
A mulher do gelado é a tentação? A mulher fina a resolução?
Não se sabe.
Apenas que à beira de Antibes estão dois pescadores pescando na noite
E duas mulheres pescando a noite na vila fantasmagórica.
(Mais informação e obras de Picasso no Artsy)
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