terça-feira, 21 de abril de 2015

Um homem muito pobre

Ele era um homem muito pobre
E ninguém sabia que existia.
Dois pães secos era o que comia
Enquanto sentado fitava um nobre

Passeando bem elevado na praça.
O pescoço pardo e fino levemente
Se levantara afim de olhar a quente;
Pesava-lhe nos olhos real injustiça.

"Para onde vai com tanta pressa?"
O homem pobre nunca a teve.
"Para que é que lhe interessa?"

A arrogância do nobre breve
Extinguiu-se quando percebeu
Que quem o olhava era um filho seu.

domingo, 12 de abril de 2015

Embebido no teu perfume

Adormecendo embebido no teu perfume,
Penso na direcção que tomámos firmemente.
Gostava de te dizer por palavras que há
Maneiras de fazer acontecer o melhor em nós

E que me despertas em calmaria de beijos.
Mas é difícil acontecerem diálogos fecundos,
Ora os pensamentos que não se materializam.
Mais um pouco e o levantar das pálpebras

Torna-se imbecilmente moroso e pesado.
Mas pensar em ti com todos os sentidos também.
Recolho-me pela última vez no cobertor

Que cheira a ti e não quer passar despercebido:
Com uma última nuance febril e louca,
Penso como foi beijar-te pela última vez.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Anti-amor

Não foi uma memória extinta
Ou um raio de sonho luminoso.
Definhe-se no tempo misterioso
Essa vida que relembro em tinta.

Mas aquela vontade de te dizer
Acima da dor o que me fez doer,
Nem essa, que é certa como tu,
Me fará parar de sentir roto e nu.

Chega de promessas distantes
Ou orvalhos de manhãs brilhantes
Esperando o que nunca chega.

Foi um perpétuo silêncio perene
De uma velha novidade cega.
No amor só toca quem não aprende.