segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A descer no decadentismo

Passo bem horas na mente a fazer de conta que crio, faço, estudo, produzo.
Mas traduzindo isso em ações, perde-se tudo.
Que vontade tenho, que arte faço, que obras extensas eu pus no mundo!
Mas é só no pensamento.

Quando for velho - muito velho - e morrer, não vão encontrar nada escondido.
Porque o consciente em mim cessou.
As ligações elétricas que criavam sonetos belos, definindo paixões, concluíram-se.
O dia da minha morte será o dia em que morrerei.
 
Eu leio poetas do século dezanove e vinte. Estudo matemática de Newton a Fubini.
Uso paradigmas de software modernos.
Tudo graças a quem não deixou no pensamento o que podia deixar escrito.
Mas que uso teria a minha tinta inútil?

Olho para o que escrevo como quem olha para o próximo livro de um autor conhecido.
A expectativa é elevada; o estilo conhecido.
Mas que expectativa teriam de mim, se não lhes dei possibilidade de a terem?
Que estilo esperariam, se não foi ainda inventado?
 
Perco-me no tempo. O infinito que guarde o meu pensamento.
O lápis violento que rompa o papel.
Que eu sonho no sonhar e pesa-me o escrever.

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