sábado, 31 de outubro de 2020

Crises de depressão e alcoolismo

Quando a vida está louca
E virada do avesso -
Passando ao lado -
Bebo - bebo bem e passa.
 
Refugio-me no álcool
Porque ele é meu amigo.
Não é um problema. Digo;
Afirmo e tenho a certeza.

Faz-me ver com clareza
Que isto de estar vivo
Só pode ter uma conclusão
Que é a morte que há-de vir.

Estarmos vivos e não beber -
Mas beber a preceito,
Que é uma ciência -
É como se estivéssemos mortos.

Como se caísse sem pudor 
O mais rico homem na terra
Aos meus pés, chorando,
Pedindo um copo de aguardente.
 
A bebida não interessa.
Faz tudo bem.
A vida não interessa
Porque vamos todos morrer.

(Mas com que sentido?
Não hemos nós de conseguir
Melhorar o mundo
Enquanto cá estamos?

De chorar com a emoção
De ter filhos, vê-los chorar,
Crescer e um dia eles
Terem filhos também?)
 
Não interessa. Desde que tenha
O copo cheio daquilo
Que me faça esquecer.
Estou bem. Estou feliz.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Ainda a arquitetura

Pousando a caneta,
Perguntou o mestre à noite:
 
"Como chegámos aqui,
Que ainda o sol se pôs 
Atrás daqueles sobreiros
No início destes versos?"
 
Um poema leva horas.

"Para ficar bem escrito?
Ou seja, que não escape 
Um sentimento distante?
Uma razão de rima?"

O que tu concluis.

"Amando a pessoa certa?
Ou talvez possível?
Não obstante confundirem-se
Em definição uma com a outra."

A pessoa possível faz o poema possível.

Concluiu sozinho o mestre,
Com sensatez alcoólica,
Que não era mestre
Nem sensato
Nem alcoólico.