O que é bom é não ter opiniões em nada.
Andar aborrecido com tudo.
Viver de acordo com a atitude inerte
De quem viveu uma vida parada
E apareceu sempre com cara de sisudo.
Quem viveu assim não se livrou da morte.
Mas que falta lhe fez as opiniões
Se viveu e foi feliz?
Talvez não fosse tanto assim.
Os conceitos de "feliz" são as considerações
De velhos estudiosos. Ufa! Foi por um triz!
É que lembrar definições deixa impacto em mim.
Assim posso continuar a viver descansado.
Serei assim ou assado?
Quem o saberá? Eu não serei.
Ninguém me vê como rei
E só eu me sinto como sou.
Espera por mim, inércia, que já vou!
terça-feira, 29 de setembro de 2015
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
Furiosamente escrevo dois ou três versos
Furiosamente escrevo dois ou três versos.
Paro contemplativo e ambiciono o dobro.
"Talvez esteja bom assim, não tem rima mas está bom."
E para me ajudar, uma sala escura embainhada
Na luminosidade que o ecrã transborda.
Esses versos iniciais eram sobre o quê?
Sobre um ministro do leste corrupto que tinha
A filha doente? Ou sobre o amor parvo e ardente?
Sobre o céu decadente que se abriu hoje em enxurrada?
Sobre Deus e as razões de tudo isto existir?
Sei só que eram furiosos; maquinalmente arquitectados.
Com compasso e régua, que são a ponta dos dedos no laptop,
E sem um dicionário de sinónimos pertinente,
Escrevo o que devo escrever que é o que não quero sentir.
Sinto muito quando não estou a jeito de pegar na escrita.
Escrevo muito quando não estou afim ao pensamento.
E tudo isso é lixo caótico e irresponsável.
Tudo isso é uma folha amarrotada e arremessada
Sem sucesso ao lixo diagonal à minha posição;
Tal como é oblíqua a matéria da escrita composta e confusa.
Levanto-me. Recordo-me dos versos de abertura automática
E recupero o papel amachucado. A caneta afinal é digital
E a folha não tem um significado físico, somente electrónico.
A electricidade flui compadecida pela electricidade que flui
Nos meus neurónios ímpetos, ora o design da primeira é
Por esta última desenhado, testado e, se tudo correr bem, aprovado.
Voltemos àquela sextilha de imagens entre digital e analógico.
Há quem apenas confie no analógico que guarda tudo afastado
Dos grandes centros de dados e da acessibilidade facilitada.
Mas eu não. Compreendo criptografia electrónica e guardo tudo
Neste sítio composto de unidades e nulidades - bits e words - e
Daí para a frente é sempre a exponenciar o potencial expoente.
Vejo-me forçado a concluir o que nem chegou a iniciar.
Vejo-me esmagado pelo tempo que ora não passa,
Ora já nem estou a pensar nisso, que há coisas consequentes.
Isto não tem consequência.
Um trabalho tem.
O mundo e as suas necessidades têm.
A única consequência disto é não definir "isto" e deixar tudo
Aos únicos cuja consequência impossível pode afectar.
Paro contemplativo e ambiciono o dobro.
"Talvez esteja bom assim, não tem rima mas está bom."
E para me ajudar, uma sala escura embainhada
Na luminosidade que o ecrã transborda.
Esses versos iniciais eram sobre o quê?
Sobre um ministro do leste corrupto que tinha
A filha doente? Ou sobre o amor parvo e ardente?
Sobre o céu decadente que se abriu hoje em enxurrada?
Sobre Deus e as razões de tudo isto existir?
Sei só que eram furiosos; maquinalmente arquitectados.
Com compasso e régua, que são a ponta dos dedos no laptop,
E sem um dicionário de sinónimos pertinente,
Escrevo o que devo escrever que é o que não quero sentir.
Sinto muito quando não estou a jeito de pegar na escrita.
Escrevo muito quando não estou afim ao pensamento.
E tudo isso é lixo caótico e irresponsável.
Tudo isso é uma folha amarrotada e arremessada
Sem sucesso ao lixo diagonal à minha posição;
Tal como é oblíqua a matéria da escrita composta e confusa.
Levanto-me. Recordo-me dos versos de abertura automática
E recupero o papel amachucado. A caneta afinal é digital
E a folha não tem um significado físico, somente electrónico.
A electricidade flui compadecida pela electricidade que flui
Nos meus neurónios ímpetos, ora o design da primeira é
Por esta última desenhado, testado e, se tudo correr bem, aprovado.
Voltemos àquela sextilha de imagens entre digital e analógico.
Há quem apenas confie no analógico que guarda tudo afastado
Dos grandes centros de dados e da acessibilidade facilitada.
Mas eu não. Compreendo criptografia electrónica e guardo tudo
Neste sítio composto de unidades e nulidades - bits e words - e
Daí para a frente é sempre a exponenciar o potencial expoente.
Vejo-me forçado a concluir o que nem chegou a iniciar.
Vejo-me esmagado pelo tempo que ora não passa,
Ora já nem estou a pensar nisso, que há coisas consequentes.
Isto não tem consequência.
Um trabalho tem.
O mundo e as suas necessidades têm.
A única consequência disto é não definir "isto" e deixar tudo
Aos únicos cuja consequência impossível pode afectar.
terça-feira, 15 de setembro de 2015
Ao me ir embora lentamente, levo Faro guardado na mala
Ao me ir embora lentamente, levo Faro guardado na mala,
Que é pacote inevitável de viagem numa solarenga manhã de Novembro.
Recordo-me. Sim - recordo-me. Não sei precisar o mês ou o dia,
Mas a hora é infinitamente o meio-dia. Sim - meio dia em ponto.
Meio dia levei para decidir e outro meio para contemplar.
Um dia para esquecer e mais outro para me iludir.
E assim me fui embora - mas não fui o único, ou o primeiro.
Era uma cidade estranha, cheia de coisas novas.
Pequena e solarenga, podia ser vista só num dia
Para quem gosta de ver coisas já demasiado vistas.
Mas eu nunca a vi de perto: só ao longe, afastado
Pelo medo de me prender e ficar lá agarrado.
Assim me fui embora: com um medo residual
E com muita pouca confiança; tão pouca que até me queria mal.
Eu queria-me mal, eu queria-me fraco e inútil.
Mas Faro é que me queria fraco e inútil.
O ALGARVE todo queria-me fora deste jogo, esse fraco e inútil.
Mas eu resisti e aguardei.
E aguardei.
E enquanto me restar alguma alma, seja fraca
Ou prestes a partir, franca ou imunda, desde que se lhe possa
Chamar alma ou alguma coisa assim pela linguagem tomada,
Aguardarei.
Que por Coimbra todos esperamos, até quem
Tem a alma agarrada por uma corda vocal rouca.
Que por Coimbra todos gritamos.
Que por Coimbra todos amamos.
Não há Faro nenhum em bagagem alguma que espere
Ou ame ou grite mais alto que tu, ó capital do Amor em Portugal.
Que é pacote inevitável de viagem numa solarenga manhã de Novembro.
Recordo-me. Sim - recordo-me. Não sei precisar o mês ou o dia,
Mas a hora é infinitamente o meio-dia. Sim - meio dia em ponto.
Meio dia levei para decidir e outro meio para contemplar.
Um dia para esquecer e mais outro para me iludir.
E assim me fui embora - mas não fui o único, ou o primeiro.
Era uma cidade estranha, cheia de coisas novas.
Pequena e solarenga, podia ser vista só num dia
Para quem gosta de ver coisas já demasiado vistas.
Mas eu nunca a vi de perto: só ao longe, afastado
Pelo medo de me prender e ficar lá agarrado.
Assim me fui embora: com um medo residual
E com muita pouca confiança; tão pouca que até me queria mal.
Eu queria-me mal, eu queria-me fraco e inútil.
Mas Faro é que me queria fraco e inútil.
O ALGARVE todo queria-me fora deste jogo, esse fraco e inútil.
Mas eu resisti e aguardei.
E aguardei.
E enquanto me restar alguma alma, seja fraca
Ou prestes a partir, franca ou imunda, desde que se lhe possa
Chamar alma ou alguma coisa assim pela linguagem tomada,
Aguardarei.
Que por Coimbra todos esperamos, até quem
Tem a alma agarrada por uma corda vocal rouca.
Que por Coimbra todos gritamos.
Que por Coimbra todos amamos.
Não há Faro nenhum em bagagem alguma que espere
Ou ame ou grite mais alto que tu, ó capital do Amor em Portugal.
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