quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Elisa

Para Elisa o mundo brilha
E o suave piano dual começa.
O tempo sinfónico atravessa
Os atalhos que a vida trilha

Enquanto, pura, Elisa escuta
Com os seus grandes olhos.
Nestes dias de pequenos sonhos
E de estáticas e complexas lutas,

Ver compor por quem não ouve
A bela e alemã obra de piano,
Ainda que nem suspeitas houve

Do ancião e audaz amor leviano,
Faz calar as luzes e concretiza
Brilhante e eterna vida para Elisa.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O pálido ponto azul suspenso num raio de sol


Quando o Universo decidiu
À Terra dar a divina vida,
Ainda que agora perdida,
Não soube o que sentiu.

Na altura de hora crassa
Fez as terras e os rios;
Os homens, esculpiu-os
Pondo-lhes uma certa graça.

Olhou-nos por fim o Universo
Ao longe envolto, de leve,
Numa sólida lágrima breve,

Vendo o seu maior sucesso:
A Terra de norte a sul;
Este pálido ponto azul.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Soneto silencioso

Era tarde, sabíamos, para nos amarmos.
Ainda assim escolhemos os abraços sóbrios
Para serem o refúgio do nosso romance.
Esses abraços extensíveis no tempo...

Tantas estórias sobre o excessivo e enervante
Amor que denunciámos; quantas lutas lógicas
Tentámos, na esperança perdida de querer mais,
Um contra o outro, ferozes, impecáveis, dissipar.

Longe, onde moras, as pessoas casam com quem
Lhes pertence. Fazem filhos e dão-lhes a Vida
Que lhes resta... A ti deram-te a Morte certa.

Porque cansas quem te quer e assustas o Futuro,
Afastaste-te precoce, e sem ti apenas restou
Um silêncio inimaginavelmente ensurdecedor.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A velocidade da Fé e a distância de Deus

Parece-me que a fé é inextinguível. Bem - de acordo com a primeira lei da termodinâmica tudo o é.

Na noite estrelada da minha aldeia, sem poluições visuais que impeçam o olhar de alcançar Orion, Cassiopeia e outras constelações na cidade apagadas, vislumbro o cosmos como ele era antigamente, há milhares e, quiçá, milhões de anos. Tudo porque a luz desse cosmos é, concorrentemente à fé, limitada por uma velocidade.

Mas a fé também tem uma velocidade qualquer... Certamente, para a conhecermos, devemos primeiro perceber em que material se propaga esta brisa divina que diariamente faz acordar pessoas devotas com alegria e vontade. Não acredito que seja no ar, até porque no primeiríssimo versículo do Génesis está descrito que "Deus criou os céus e a terra". Ora, se a Bíblia principia com os dois elementos distintos do nosso mundo - terra e ar - sem que antes fale de luz, trevas e Vida, poderemos afirmar que Deus tem pinta de arquitecto e não de físico de partículas - considerando que a Fé pode ser dividida infinitesimalmente em indivisíveis corpúsculos, à semelhança da luz. Posto isto: Deus pensa no material antes de pensar no que nele se pode propagar. Por isso é que se baptizam as crianças e se crismam os jovens.

Deitada por terra a hipótese de conhecer a velocidade da Fé através do meio em que se propaga, vejamos quanto tempo demora esta a propagar-se desde a sua fonte até ao seu receptor. Aqui fica tudo mais interessante, até porque negar que a fonte da Fé é Deus seria deitar por terra milhares de anos de uma religião por gerações orquestrada. Mas ainda assim desconfio que a teoria da evolução se pode evocar divinamente. Ainda assim desconfio que Deus não é a origem da Fé. Deus não é a origem de nada. Parece-me.

Isto, dito assim, pode subentender alguma arrogância e ousadia perigosa. Portanto, para equilibrar a balança moral, ofereço uma hipótese: a Fé chega-nos antes de existir. Ao contrário do conforto, do medo e de todas as coisas que se sentem, a Fé é consequência da nossa incompreensão. Ora se não compreendemos, como podemos atribuir-lhe um dado físico como a distância ou sequer a existência?

Deus, concluo, é a incompreensão que move a Ciência e o Homem como um todo. Nunca se adorou uma pedra porque está parada num sítio e pode ver-se com clareza. Nunca se adorou uma pedra porque a pedra não nos diz nada e porque há muitas.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Diana

Deontológica Diana;
De saberes na fé enraizados,
O teu sabor de vida insana
Não faz jus à moralizada

Questão dos idos tempos.
Que questão pertinente...
Outrora: certos ventos;
Agora: quem cala, mente.

Na foz do rio, quando
Ele acaba e se torna mar,
Serás somente oxidação

Numa rota sem ar.
Impossível à visão,
Nada te fará abrandar.