Dona Henriqueta: faça o favor de chegar aqui.
Ao meu colo encontra um envelope, selado
E com um conteúdo escrito especialmente para si.
Quero que regue as flores que estão aqui ao lado.
Estou a morrer e, sabe Dona Henriqueta santa,
Nesta cama final só há dúvidas e arrependimentos.
Tenho pena de ser eu assim. Tenho frio: dê-me a manta.
Vivi, amei e chorei. Na falta de mais, tenho esses momentos.
Vi tudo o que o mundo me quis à vista mostrar.
Senti a brisa fina e a doirada manhã sem lhes tocar.
Sorri sempre para si ao dar-lhe estas cartas
Que, agora no fim, não vale nada atirar as setas.
Mas você, tenra Dona Henriqueta assistente,
Tanta vida viu partir que nem enxergou a sua a acusar.
Abra o olhar que ao seu redor nada a está a enganar.
Somente você, jovem Henriqueta, vive a vida intermitente.
Cuida de nós, efémeros, e vê-nos como gente.
Em si há bondade, consigo-o ver claramente -
Mas a bondade apenas redunda em coisa nenhuma.
Cuide de si, ajude os outros: seja feliz, em suma.
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