enquanto todo aquele luar
me observa no infinito
céu luzidamente ponteado,
conservo o sentimento
de que nada do que vejo
é, foi, ou será, real.
Que a lógica do meu olhar
se revê na profissão do
meu incapaz raciocínio.
Olho impotentemente.
Sei que tudo o que vejo
se estende no infinito,
esse que tão quantificado é.
O que é, na verdade, isto tudo?
A Lua é aqui ao pé.
As estrelas não são sonhos.
A noite está viva porque o dia
veremos surgir por entre ela.
Humilhante é não saber nada.
Basta viver e ficamos logo a saber.
Eu, que sei saber algo,
mas que na escala
do conhecimento o que sei
não passa de menos que tudo,
fico interessado em querer
aprender o que ninguém
me poderá um dia ensinar.
Mas o céu parece tanta coisa.
Todo o Universo estendido
parece mais infinito que o infinito.
E ainda assim acaba eventualmente,
ainda assim ninguém o sabe.
As luzes não são de hoje,
a poeira morta estelar está fria.
Cá na Terra imitamos as estrelas,
e a luz dos candeeiros de rua que
a janela do meu quarto deixa entrar,
por estar entreaberta na frescura
da brisa luminosa, pode já ter sido
luz de uma estrela que se apagou,
pode ser a luz que já me iluminou.
pode ser a luz que já me iluminou.
Tudo se apaga. Até o que não tem luz.
Fico a saber pelas notícias
da morte de um ilustre filósofo
que era professor e doutor.
Ele sabia que se ia apagar,
como as estrelas e o céu diurno.
Sabia tudo isso e sabia não saber.
A realidade de saber
tudo o que é real é tão
impossível como projectar
algo curvo na imaginação.
O infinito não existe.
Os números não acabam
porque nem chegam a começar.
Para tudo o que se olha
ficamos a aprender algo.
E enquanto não aprendermos
que o olhar acaba no desejo
de conseguir ver alguma coisa,
nada mais saberemos senão
as filosofias de não saber nada.