Sentado no meu sofá
Vejo, paciente,
Esta coisa do tempo
Que passa sem ninguém
A incomodar.
Tão desinteressado
O momento atual
Se torna, tão certo,
No momento que vem.
E aquele que veio,
Antes daquele que passa,
Também já foi outrora
Um momento
Cheio
De esperanças de tantos,
De angústias de alguns,
De certezas que haveriam de vir,
De trabalhos que ficaram por fazer.
Mas eu estou sentado aqui
Deixando a vida passar,
Porque ela passa sempre.
Nem atento ao lado de fora
Da janela da sala,
Nem esperando ninguém
Que me bata à porta de casa.
Reconheço esta
Configuração específica de coisas
Que provoca,
Por consequência,
Outra nova.
Não ignoro.
A minha coragem esgota-se
Por reconhecer as semelhanças entre
Estar sentado aqui, no meu sofá,
No conforto do momento presente,
E estar sentado sobre os dividendos
Do trabalho que ainda não fiz.