Entre fumos psicóticos e líquidos de evaporação rápida,
Ele senta-se para escrever qualquer coisa sob a ampla janela.
Desvia o olhar para cima durante dois segundos e contempla.
É a rua de sempre, preenchida pelas pessoas de sempre.
É sobre isso que vai escrever e o seu coração
Cruza-se como as linhas da calçada.
A mansarda está fechada; é domingo de manhã.
Se existisse naquele estúdio alguma vista para o céu,
Que mística universal poderia o poema conter?
Mas é a imaginação que reina e que faz os homens tremer.
As pessoas lá fora são previsíveis: ninguém se desamarra
Da rotineira pressa ou do inevitável consumo dos vícios
Urbanos que tão bem empregam o dono da Tabacaria habitual.
À porta, os clientes param dez ou vinte segundos para acender
O cigarro: o primeiro daquela nova viagem de pacote a estrear.
Uma ou duas tentavas de combustão de fósforo, uma degustação
Primária do fumo que não se inala e uma contemplação
Do cigarro com a ponta incandescente por inteiro.
Acena o poeta a este! Ora lá vai mais um de parecenças!
É a vida moderna - assente naqueles lugares que bem conhece.
Mas a vida movimentada e previsível só dá acaso à análise
Se esta última for percebida do lado de dentro,
Enquanto sentado à beira da janela e rabiscando algumas estrofes.
As imagens que escreve de acordo com as helénicas ou românicas
Divindades, ora nefastas porque lhe é quebrado o ritmo, ora nobres
Porque assentam num crescendo literário, são apenas imagens
De um livro sem ilustrações para o qual só nasceu o Poeta
Observador da Tabacaria defronte na rua.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
O fim do início
Onde estou a esta hora?
Que questão incoerente.
O que causa esta demora
E não me deixa contente?...
Se tudo acabar?... tudo um dia acaba.
Mas isso é inoportuno, digamos.
Nem o mais ardente vinho trava
Os dias passados; certos e insanos.
Mas tudo é oportuno...
Escrever é uma brincadeira de criança:
Acaba sempre por crescer para algo maior.
E por vermos e notarmos
Essa metamorfose,
Sou triste e não mato nenhum génio.
Que questão incoerente.
O que causa esta demora
E não me deixa contente?...
Se tudo acabar?... tudo um dia acaba.
Mas isso é inoportuno, digamos.
Nem o mais ardente vinho trava
Os dias passados; certos e insanos.
Mas tudo é oportuno...
Escrever é uma brincadeira de criança:
Acaba sempre por crescer para algo maior.
E por vermos e notarmos
Essa metamorfose,
Sou triste e não mato nenhum génio.
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Ser grande e grandioso é virtude de ser pequeno numa área também ela pequena
Perdi a vontade de não escrever.
Soltou-me. Estou livre agora!
Como uma máquina, maquineio
Deveras directamente o teclado.
Teclado que outrora era mecânico.
E agora há-os mecânicos novamente.
Mas não pensem que fazem escrever
Melhor ou dirigir os pensamentos
De modo mais abstracto na folha web.
São só modos de construção diferentes.
São só resultados de pensamentos diferentes;
Para pessoas existencialmente diferentes;
Que querem coisas diferentes e que, enfim,
Diferem em todas as semelhanças.
Não há mal em querer coisas diferentes.
Na História, todos os progressos começam
Quando outro diferente acaba.
Assim se evolui. Diferencialmente.
O paradigma mata a concepção.
O dogma mata a ideia renovada.
O filho de outrora será o pai do amanhã.
O Amanhã é filho do futuro recente.
E ninguém, só Deus - nem Deus,
Sabe o que existiu ontem.
Jamais o que existirá amanhã.
Soltou-me. Estou livre agora!
Como uma máquina, maquineio
Deveras directamente o teclado.
Teclado que outrora era mecânico.
E agora há-os mecânicos novamente.
Mas não pensem que fazem escrever
Melhor ou dirigir os pensamentos
De modo mais abstracto na folha web.
São só modos de construção diferentes.
São só resultados de pensamentos diferentes;
Para pessoas existencialmente diferentes;
Que querem coisas diferentes e que, enfim,
Diferem em todas as semelhanças.
Não há mal em querer coisas diferentes.
Na História, todos os progressos começam
Quando outro diferente acaba.
Assim se evolui. Diferencialmente.
O paradigma mata a concepção.
O dogma mata a ideia renovada.
O filho de outrora será o pai do amanhã.
O Amanhã é filho do futuro recente.
E ninguém, só Deus - nem Deus,
Sabe o que existiu ontem.
Jamais o que existirá amanhã.
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