domingo, 21 de outubro de 2012

Caminha o menino

Pudesse uma criança deveras
decidir se à Terra queria vir,
viria ela tão prontamente
como vem fazer à mãe dor sentir?

Quisesse a mãe ver no filho
aquilo que nela antes ver queria,
nasceria assim tão perpetuamente
como nasce uma triste mente?

Fosse ele ao longo do seu destino
buscar quem poucos ofícios tem
mas, sim, muito tempo de menino,
seria ele o tormento de sua mãe?

Da fonte que em criança o colheu,
que água quente jorra em seu leito,
para a torrente fria do Fado seu,
caminha o menino em seu jeito.




segunda-feira, 8 de outubro de 2012

English attempt

The birds are discontinuously singing outside. It's a sign: autumn's here. The lying season, the coarse god's masterpiece. As the spring crosses the other side of the circle, warming the people, hopelessly, the beginning of the cold mixes with my hot tempered heart. Yes, I think it's fake. The passion, the love, the things I should feel when spring begins, when the hope begins, these things... I'm feeling all of them now. 
When a leave falls, the ground stills strong. When the cold wind brings the sadness and the monotony, my soul remains loud and hot like an echo that deafens the surroundings. It's like a lollipop with a sugar topping: bitter when you first taste it, but delicious when you begin to be used to it. 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Fernando Pessoas


Vamos ler Fernando Pessoa. Vamos vaguear na mente de um doido que de parvo tinha pouco. Naufragamos nos versos dos seus poemas desamparados pelo seu restrito sentido, pela sua ambígua estupidez, pela sua genérica interpretação. Desacataremos a forma e a métrica e atentemos as marcas linguísticas e os recursos expressivos utilizado pelo que finge. É uma introspecção do leitor na sua revisão acerca da mensagem pseudosubliminar contida nas estrofes. Pseudo porque disto tinha Pessoa imenso. Tinha tanto que até heterónimos tinha, para disfarçar a sua razão psíquica e utiliza-la na alma emotiva-sentimental de outras gentes por ele criadas. Sentir-se-ia ultrapassado por ele próprio. Mas como seria possível ele saber que se estava a transcender, sendo ele, ele? Racionalizou então outros eles, mas que não fossem ele. Quis ao mundo dar a saber que o seu entendimento excessivo e socialmente pejorativo não era apenas e só seu. Era dele e de outros eles, dentro dele. Queria descartar aquilo que bate para dar importância àquilo que nos dá a razão. Queria colocar os miolos no tórax e o coração no crânio, queria uma sombra que sofresse metamorfoses projectada por um corpo imutável.