sábado, 13 de novembro de 2021

Passado doente da minha cabeça

Passado doente da minha cabeça
Em que a natureza tinha ritmo
E a poesia enchia os jardins.

Os caminhos do arvoredo
Com passagem nas frestas de luz
E o chão de musgo húmido.
 
As rosas albardeiras selvagens
Da minha memória florida,
Colhendo uma para a minha mãe.
 
O cheiro do por do sol
Num fim de dia cansado
Por correr sem saber porquê.

Ai as enchentes de elogios
Que a tia velha vinha dar
Só a mim porque merecia.

Os doces tão finitos
Que embora fossem poucos
Davam para o dia todo.

Mas eu cresci.
E não há tempo melhor
Que aquele que tivemos.

É noite no fim do trabalho.
De manhã tenho sono.
O meu amor...
Onde está o meu amor?

domingo, 24 de outubro de 2021

Esta paisagem não existe

Que benefício tem viver
Se não posso mostrar?
Passeio para partilhar
Com todos esta paisagem.

Mas se não a puderem ver?
Até o mais fugaz sorriso
Só existe se for visto.
Há paisagem sem ser vista?

Ninguém sabe onde estou
Mas todos sabem da paisagem.
Ela existe no momento 
De quando a mostro.

Fora disso é um vazio
Que não entra no enredo.
Eu vivo para mostrar
E o tangível quer esconder.
 

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Hoje, devagar

Um sorriso meu
Que é teu
E me o entregaste
Porque me falaste.
 
Ai de mim ser teu -
Que para ti caminha
A vontade de seres minha
Que ninguém te deu.

A nossa conversa nua
Disposta num encanto
Provocante titula
Um novo entretanto.

Em ti mergulho
Sem medo do fim
Porque acaba sem mim
Teu meado orgulho.

Vem de novo -
Lentamente -
Ser minha sozinha.
Ser contente.
Vem;
Sem repente.

domingo, 12 de setembro de 2021

Ambos

Tu que embaixo os teus olhos nos meus tocam
Tão defletidos da falatória costumária.

Não me sintas no nervosismo decadente
Mas no encontro de suspiros ultrapassados.

Havemos de chegar a um encontro perfeito
De haverismos necessários e recíprocos.

Todas as conversas de iniciação alcoólica
Privam de sentir a sua verdadeira substância.

Eu com algumas frases feitas.
Tu com o querer saber de que se trata tudo isto.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Há alguns anos

Lembro-me de viver no jardim dos sonhos
Numa rua perpendicular à realidade.
Saía de casa nas tardes de céu encoberto,
Talvez pelo sol ter vergonha do que ilumina.

Teus cabelos tempestuosamente negros
Que se perdiam amplos nos teus ombros.
Raiava-se o teu olhar fixo no meu
E as memórias inexperientes perduram.
 
A reflexão sem o contraditório
Não é mais que hipótese nunca demonstrada.
O sonho não tem peso na algibeira do passado,
Mas este é que me tem esmagado.

quinta-feira, 18 de março de 2021

Quando nos encontramos outra vez

Ainda há tempo para ver os dias passar
Acomodando-nos no solarengo estado presente.

Estamos quentinhos no nosso sítio, para quê mover-nos?
Amanhã o tempo passará! É dia de passar.

Mas o dia de nos vermos? É uma miragem;
Um fecho de cortina inundado de aplausos.

Com efeito nos vemos ao longe,
Transmitindo um olhar passageiro.
 
As minhas mãos tremem...
Depois deste tempo todo?
Sempre...