Todos nós nos deparamos, diariamente, com tentações que colocam à prova a nossa capacidade de fechar os olhos, respirar fundo, e dizer que não. Dizer que não a variadas situações: jovens veraneantes de bikini nos seus 18 anos; jovens veraneantes de bikini nos seus 19 anos; ou até mesmo jovens veraneantes de bikini nos seus 20 anos. Em situações mais inesperadas defrontamo-nos até com jovens veraneantes de bikini topless nos seus 21 anos
Com todas as condições reunidas para falharmos o objetivo de uma sacra vida pura e íntegra, torna-se imperativo desenvolver mecanismos para que nos passe ao lado toda a tentação e luxúria. Proponho, portanto, alguns aspetos que, ao integrarmos no nosso quotidiano, nos ajudarão a ignorar a mais voluptuosa modelo de Instagram.
Ficar cego: a visão, de qualquer maneira, é sobrevalorizada. Esta solução corta o mal pela raiz: se não há nada para ver, não há nada a tentar-nos. Atingir este objetivo nos dias que correm é bastante simples, uma vez que há uma variedade de fármacos alternativos, relativamente simples de adquirir, que fazem o serviço. Em alternativa pode-se tirar o curso da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol.
Ir à missa vespertina: se o prezado leitor é como eu, não falta a uma missa. Porém, há que ter atenção à tipologia de missa que se frequenta. Missas de domingo são uma mina de tentação - principalmente no verão em igrejas sem ar condicionado. A missa de sábado à noite, por outro lado, é um atalho para atingir a santidade. Ainda assim é preciso ter cuidado com algumas viúvas.
Casar: pensando melhor, podemos saltar este ponto.
Tirar uma licenciatura e posteriormente mestrado numa área científica obscura; perceber ao longo desse percurso que ninguém está a contratar na área; tentar a sorte numa bolsa de doutoramento "porque o panorama pode melhorar nos próximos anos"; passar 10 anos a estudar sem obter resultados significativos; ter 30 e muitos anos e ouvir os auxiliares de 25 a sussurrar "que a qualquer momento isto vai virar"; perder gradualmente a esperança e, de um momento para o outro, perdê-la por completo: esta é infalível. Se o estimado leitor conseguir integrar esta simples técnica na sua vida nunca mais vai tropeçar no caminho da fonte - porque provavelmente tropeçou no caminho para a sala de conferências na antecipação de mais um briefing de introdução a novos graduados cheios de esperança.
Espero que este guia seja do agrado de todos os leitores que, como eu, procuram uma vida sem sobressaltos.