Após ter perdido duas batalhas
Um capitão
Junta os soldados - os que sobram -
Para lhes dizer que ainda não acabou a luta.
Após o noturno deboche tresloucado
Uma puta
Acende um cigarro leve
E recolhe com vagar o seu soldo.
Após lhe ter sido enterrado o filho
Um pai
Recolhe-se pensativo num abraço
Que uma mãe nunca pode receber.
Após ter cantado de bebedeira
Um santo
Vai beber raios do amanhecer
Numa missa muito opinada.
Após chegar ao fim
Uma vida
É feita do prazer que há na dor
E das agonias da alegria.
terça-feira, 12 de junho de 2018
quarta-feira, 6 de junho de 2018
A lenta passagem do tempo (mas que nós notamos todos os dias)
Em todas as manhãs olhamos ao espelho para arranjar alguma particularidade das nossas feições. Vemos-nos todos os dias e sem exceção apontamos-nos defeitos em terceira pessoa. É a nossa cara de cada dia - a mesma de ontem e igual à de amanhã.
Com um pouco de olhar atento e pormenorizado conseguimos ver o cansaço a entranhar-se lentamente, em cada dia, no canto dos olhos, nas pálpebras, na rigidez das maçãs do rosto. As feições do nosso sorriso estão hoje mais profundas em cada nova ruga rabiscada na tela da nossa face.
Sabemos que é um combate perdido e que todos os remédios são remendos de prevenção ou de angústia de emergência. Amanhã estaremos a queixar-nos novamente - seja do rosto ou do decaimento contínuo do contentor da nossa alma.
No fim disto tudo a única cova que nos dará as boas vindas não está vincada nos traços dos sorrisos das pessoas que nos conhecem, mas no choro dos nossos filhos e na palidez do velho rosto espelhado nos seus olhos.
Subscrever:
Mensagens (Atom)